Há duas semanas, neste mesmo jornal, Rui Isidro recomendava a Joaquim Valente 10 medidas para o seu mandato como próximo presidente da Câmara Municipal da Guarda. Não discordo de nenhuma delas e concordo em particular com uma ideia geral que está subjacente a essas medidas: melhorar a cidade, sim, mas diminuir ao mesmo tempo a actual omnipresença da Câmara, que vê a sua influência tocar em praticamente todos os aspectos da vida no Concelho. Mesmo assim, correndo o risco de aumentar ainda mais essa influência, acrescentaria quatro medidas, a aplicar por quem ganhe as eleições autárquicas, ao “programa” de Rui Isidro (um futuro vereador de Joaquim Valente?):
1. A Estrada Verde. A Guarda é uma cidade com um enorme potencial turístico e fica, em linha recta, a menos de meia hora do coração da Serra da Estrela. A construir-se a célebre e constantemente adiada Estrada Verde, cria-se um novo eixo de desenvolvimento e altera-se radicalmente a relação da cidade com a Serra. O actual parque hoteleiro ganharia um novo fôlego e a cidade passaria a ser um destino turístico privilegiado. É claro que há objecções, como seja a dificuldade em coordenar os interesses das várias autarquias envolvidas, mas para a resolver se integrou a Guarda numa comunidade intermunicipal. Podem também falar em objecções ambientais, mas não parecem inultrapassáveis e o acesso da estrada a áreas protegidas não é, só por si, um inconveniente.
2. A reflorestação. Ardeu tudo, ou quase tudo. As consequências são, entre outras, a devastação da paisagem, algumas visíveis alterações climáticas, a erosão dos solos. Muito do que ardeu foi em terrenos públicos, ou abandonados pelos proprietários. Não quero sugerir, para já, um programa de expropriações com objectivos ambientais, mas seria certamente desejável que as zonas ardidas fossem reflorestadas com as espécies tradicionais da região. O resultado apenas se faria sentir daqui a algumas décadas, mas os nossos filhos, ou netos, merecem o esforço.
3. A água. O petróleo vai acabar, já o sabemos, mas vai também haver problemas no futuro próximo com a água potável. A orografia da região oferece condições óptimas para a sua recolha e armazenamento. Não tardará o momento em que a qualidade da água passe a ser um factor de desenvolvimento, senão de sobrevivência. É que pode não tardar o momento em que a inauguração dos fontanários passe de moda, por falta de matéria-prima.
4. A produção de energia. O preço do barril de petróleo não vai baixar. Mas vai continuar a haver sol e vento. Há programas comunitários de apoio à construção de parques eólicos e nós temos as condições ideais. A electricidade produzida nesses parques começa a ser compensatória, comparada com a das centrais térmicas, alimentadas com um petróleo cada vez mais caro. Dentro de alguns anos, então, vai ser de uma importância vital dispor de fontes de energia alternativas às actuais. E se a autarquia pudesse oferecer electricidade a preços competitivos a empresas que se quisessem instalar na região, haveria certamente quem aceitasse promover por aqui mais uns empregos. Há projectos apresentados para parques eólicos a construir no concelho da Guarda que aguardam luz verde há demasiado tempo.
Podem dizer-me que boa parte destas medidas é de resultado visível apenas a longo prazo, e têm razão. Mas imaginem o concelho daqui a vinte anos, se elas forem tomadas agora – ou se continuarem na gaveta.
Por: António Ferreira