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Maioria absoluta para quê?

Menos que Zero

A campanha eleitoral entrou na recta final. O Partido Socialista pede uma maioria absoluta, o PSD ainda acredita na vitória, o PP sonha com 10 por cento, a CDU quer manter a votação e o Bloco de Esquerda pede mais deputados. De todos estes pedidos, o que mais me preocupa é o do PS. Não pela vitória em si, que daí não vem nenhum mal ao mundo, mas pela eventualidade da maioria absoluta acontecer.

Penso que o país não precisa de uma maioria absoluta. Justificava-se apenas se o PS apresentasse um programa de ruptura com as políticas económicas actuais, o que não se verifica. Aliás, os programas dos maiores partidos são bastante semelhantes, pelo que não se adivinham grandes dificuldades na aprovação de medidas tendentes à correcção do actual modelo de desenvolvimento. Por isso, quando os socialistas pedem uma maioria absoluta apetece-me perguntar-lhes: Mas para quê? Para criarem 150 mil empregos? Não é preciso, pois todos os partidos estão de acordo. Para aprovarem um plano tecnológico em nome do crescimento económico? Não vale a pena, pois isso é consensual.

A maioria absoluta de um só partido significa que a Assembleia da República tornar-se-á num mero órgão de retórica. Como é habitual, o partido que suporta o Governo votará favoravelmente as propostas governamentais, pelo que a acção fiscalizadora do Parlamento deixa de funcionar.

Caso o PS fique próximo da maioria absoluta, o partido poderá negociar com qualquer uma das outras forças políticas, o que é um saudável exercício de democracia. É por isso que o voto nos pequenos partidos nunca foi tão útil como nestas eleições.

Repito a nota final que escrevi em 2002:

Os que pedem maiorias absolutas saberão economia, saberão agricultura, saberão medicina, saberão fazer ceias para cardeais, saberão tudo menos governar com maioria absoluta que é a única coisa que eles querem!

Os que pedem maiorias absolutas são autómatos que deitam p’ra fora o que a gente já sabe que vai sair… mas é preciso deitar voto!

E fiquem sabendo os que pedem maiorias que se todos fossem como eu haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Morram as maiorias absolutas! Morram! – PIM!

[adaptação do MANIFESTO ANTI-DANTAS, de Almada Negreiros]

Por: João Canavilhas

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