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Magnífico Portugal

Ladrar à Caravana

Regresso de uma viagem por alguns países da Europa. A última tirada liga-me directamente de Paris à santa terrinha. É uma sensação grandiosa, entrar na Pátria! O primeiro sinal que vejo diz DESVIO. Entro por uma estrada completamente destituída de iluminação ou marcas pintadas. Às 3 da manhã, numa noite sem luar, torna-se complicado distinguir a estrada da berma. Avancemos. Já estamos na nossa terra. Obras não sinalizadas, intercaladas com ilhas de luzinhas cor-de-laranja e sinais de desvio, de cautela, de limite de velocidade, de proibição de ultrapassar, linhas amarelas pintadas no chão que nos dirigem em linha recta para as barreiras de limite de estrada, que só se tornam visíveis a escassos metros de distância. A ajudar, as luzes dos automóveis que vêm em sentido contrário. Enfim, desde Vilar Formoso até à Guarda, foi uma festa. Uma gincana. Se dúvidas restassem, agora não existiam: estava de volta a casa! Viva Portugal!

Em contrapartida, em França, essa terra de bárbaros criadores de caniches, na auto-estrada A10, que sai de Paris em direcção ao sudoeste, somos massacrados com avisos em sinais luminosos e cartazes que dentro de 30 Km encontraremos obras. Depois, a 20. 10. 5. 2. 1. 500 metros. Caution! Roulez doucement. Derrière les barrieres il y a des hommes. Mariquices, coisas mesmo de franceses, por uma coisinha de nada, dois ou três quilómetros de berma eliminada, umas retroescavadoras e uns tipos a trabalhar na manutenção, tanto barulho, tanto aviso. E depois, Fin des travaux. Merci de votre comprehension. Que gozo pode dar, conduzir nessas condições? Tudo previsto, tudo sinalizado. Não tem graça nenhuma.

Tem graça é imaginar o que passará pela cabeça de um alemão, holandês, até mesmo de um espanhol, a fazer a sua entrada triunfal nesta terra, nas condições que descrevi. Para eles, habituados às mariquices da segurança, deve ser um fartote de emoções fortes. Porra! Isto é europeu? Ou enganei-me e vim parar a Marrocos? Se uma entrada internacional deste país é assim, como será o resto? Será melhor dar meia volta?

Não, definitivamente, não há como terra como a nossa.

(Será por isso que sinto essa vontade irresistível de emigrar?)

Por: Jorge Bacelar

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