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Lotação esgotada na feira do Jarmelo

A vaca jarmelista já não está em vias de extinção, mas o perigo ainda persiste. No entanto, no último domingo, a feira de gado confirmou que algo está a mudar neste setor.

Há 30 anos que não havia uma feira como esta no Jarmelo. A mais emblemática feira de gado da região da Guarda teve “casa cheia” no último domingo com 40 vacas daquela raça autóctone a concurso, um número de participações como já não se via. Castanhas e com franja, as jarmelistas estiveram à beira da extinção, mas hoje estão em franca recuperação, tendo marcado presença 19 produtores da Guarda e de concelhos vizinhos.

«Há muitos anos que não havia tantas vacas a concurso, isso é fruto de um trabalho da Acriguarda, mas também da vontade dos próprios criadores em preservar a raça, uma vez que estava praticamente extinta e neste momento está em franca recuperação», admitiu Paulo Poço. O diretor técnico da Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda, à qual foi confiado o livro genealógico da jarmelista após ter sido reconhecida como raça bovina portuguesa em 2007, recorda que nesse ano havia 34 animais, «hoje são 130 vacas reprodutoras, num efetivo total de mais de 200, mas o cenário de extinção ainda não está afastado porque continua a ser uma raça com muito pouco exemplares», alertou. A feira, que se realiza anualmente desde o início da década de 80 do século passado, tem a sua quota parte de responsabilidade nestes números, mas os criadores também recebem apoios dos fundos comunitários para as raças em vias de extinção.

«O resultado é um melhoramento brutal nestes animais», sublinha Paulo Poço, para quem o futuro da jarmelista está na comercialização da sua «excecional» carne. «Por enquanto, este negócio ainda é pouco rentável devido ao número de exemplares que temos», explicou, adiantando que a polémica com os criadores de raça mirandesa já está sanada. «As duas associações reuniram aqui na Guarda e chegou-se a um entendimento porque ambas estão no mesmo barco da preservação destas duas raças autóctones», referiu o técnico. Em 2009, a Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa contestou o reconhecimento da jarmelista como raça autóctone, tendo interposto duas providências cautelares para suspender o processo e uma queixa-crime à Direção-Geral de Veterinária (DGV) por falsificação de identidade.

Polémica à parte, João Cairrão, de 48 anos, tem 18 animais em São Pedro do Jarmelo e vem anualmente à feira para mostrar os seus exemplares e para vender «se for possível». Um dos criadores mais novos presentes no certame recorda que nos últimos anos têm feito bons negócios porque «esta raça está em vias de extinção e sempre valoriza mais um bocadinho». Mesmo assim, isso não chegar para tornar a atividade sustentável: «Devia haver mais incentivos para ajudar a preservar a jarmelista, pois é uma raça que tem menos rendimento de carcaça que o cruzado de charolês ou cruzado de limousine», justifica. Também Luciano Monteiro, de São Miguel do Jarmelo, estava disposto a vender um touro, mas «nunca por menos de 1.500 euros». O criador reconheceu que o negócio já teve melhores dias e que até a participação na feira dava bons prémios. «Eu cheguei a levar aos 400 contos e agora é só uma ajuda para virmos, pois não há dinheiro».

Vacas, cabras e ovelhas

A feira-concurso é organizada pela Acriguarda com as duas Juntas de Freguesia do Jarmelo (São Miguel e São Pedro), a Associação Cultural e Desportiva local e o apoio da Câmara da Guarda. Este ano concorreram criadores com 40 vacas, 94 ovelhas e 34 cabras. João Cairrão levou o prémio (100) para o melhor touro do certame.

Luis Martins As jarmelistas foram o centro das atenções de centenas de visitantes no último domingo

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