Certo jornal tinha vários colunistas; o mais parvo deles disse ao director: Eh pá, dá-me a parte dos M&M’s que me cabe. E ele lhes repartiu os chocolates.
Passados não muitos dias, esse colunista menos talentoso, ajuntando tudo o que era seu (18 pacotes de M&M’s, um PowerBook e muitos filmes para adultos), partiu para férias e fez uso de todos os seus bens, navegando dissolutamente na internet.
Depois de ter consumido todos os M&M’s e como as empresas não vendem chocolates no Verão, sobreveio uma grande fome e ele começou a passar necessidade.
Então, ele foi e se abancou a ver os Jogos Olímpicos, e foi como se ficasse a viver com os porcos.
Ali, desejava ele fartar-se das medalhas de ouro; mas ninguém ganhava nada.
Então, caindo em si, disse: Quantos jornalistas do meu semanário regional têm cultura com fartura, e eu aqui morrer de burrice!
Levantar-me-ei, e irei ter com o meu director, e lhe direi: Pá, pequei contra o papel de jornal e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu colunista; trata-me como quem te corta o cabelo.
E, levantando-se, foi para seu director. Vinha ele ainda longe, quando seu director o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, mas não beijou, que ambos são heterossexuais, embora não houvesse mal nenhum se o não fossem, porque esta parábola não é do grupo parlamentar do PS.
E o colunista lhe disse: Pá, pequei contra os accionistas e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu colunista. O director, porém, disse aos seus paginadores: Trazei depressa o melhor papel, paginai-o, ponde-lhe um tipo helvética e espaçamento um e meio; trazei também uns rissóis e uns croquetes. Comamos e regozijemo-nos com estes filmes, porque o nosso colunista estava morto e reviveu, estava perdido em Lisboa e foi achado numa esquina do Intendente a perguntar preços. E começaram a regozijar-se, cada um por si e em compartimentos diferentes, porque neste órgão de informação não havia homossexualidade, embora mal não fora se houvera, porque a moral desta parábola não pertence a Manuela Ferreira Leite.
Ora, o chefe de redacção estivera no campo em reportagem; e, quando voltava, ao aproximar-se da redacção, ouviu os gemidos dobrados em espanhol.
Chamou um dos jornalistas e perguntou-lhe que era aquilo.
E ele informou: Veio o gajo dos Ornitorrincos, e o director mandou comprar rissóis, porque o recuperou sem pagar aumento.
Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o director, procurava conciliá-lo.
Mas ele respondeu a seu director: Há tantos anos que escrevo sem jamais transgredir uma regra gramatical, e nunca me deste um Mon Cheri ou um DVD da Vanessa da Matta sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu colunista, que desperdiçou os teus M&M’s com pornografia, tu mandaste fazer para ele um cabaz de fritos.
Então, lhe respondeu o director: Meu caro, tu sempre estás comigo; tudo o que existe na redacção é também teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos (porque o colunista conhece sites mesmo muito regozijantes) e nos alegrássemos (porque o colunista trouxe umas ervas que dão mesmo muita alegria), porque o computador desse colunista esteve morto e reviveu, ele estava perdido no Elefante Branco e foi achado na Passerelle.
Por: Nuno Amaral Jerónimo