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LOL

Se o caro leitor nasceu antes da década de 90 do século passado a expressão/acrónimo que intitula este texto poderá não lhe dizer grande coisa; se nasceu durante ou após a dita, provavelmente não me estará a ler ou, se estiver, já percebeu o significado da mesma. Fica então a saber que os mais velhos riem, mas os segundos não – dão “loladas”.

Mas o que é isto do LOL? É um acrónimo para a expressão inglesa, nascida nas salas de conversação da internet de antanho e significa uma de duas coisas: “Lots of laughs” (muitas risadas) ou “Laughing out loud” (gargalhadas). Se tem filhos, sobrinhos adolescentes ou lida diariamente com eles deve saber há muito que estes não riem, antes substituem esta forma de expressar boa disposição por um telegráfico “lol”. «-Filho, sabes como ficou o Benfica?» e ele: «Lol pai, achas que me importo com os lampiões?». Embrulha. Mas uma expressão/acrónimo que já encerra um significado hiperbólico pode sê-lo ainda mais. Por exemplo um “lololol” ou um “looooooooool” podem conter uma quantidade de risos e gargalhadas muito superior aos emitidos num espetáculo ao vivo dos Gato Fedorento. Pensamos que o povo português anda tristonho mas basta ir aos comentários nas redes sociais, para verificarmos que anda tudo a rir às bandeiras despregadas, só que em versão compacta que o tempo não está para desperdícios.

Mas há outro tipo de LOL, o “League of Legends”. É o segundo jogo online mais lucrativo de sempre, 624 milhões de dólares em 2013. Gerar montantes destes significa milhões de utilizadores agarrados horas a fio, interpretando papéis em jogos e acabando altamente viciados. Para ir subindo na hierarquia do jogo, implica o alcançar de níveis e o reconhecimento pelos pares das suas habilidades ou capacidades. Se quiserem subir mais depressa, nada como comprarem por um punhado de dólares as personagens e respetivas “skins” por que tanto anseiam para aumentarem a performance. Já estão a ver de onde vêm os milhões?

Estas dependências de jogos já não são de agora. A internet apenas veio permitir que muito mais gente acedesse com um cartão de crédito e um clique a milhares de formas de adição sem substância.

Denominam-se perturbações aditivas sem substância, as que não resultam do consumo de drogas, tabaco ou álcool, mas dependem de substâncias produzidas pelo cérebro e ligadas ao seu centro de gratificação. Assim, vícios como o jogo, internet, comida, sexo ou compras, levam a um aumento dos níveis de dopamina e de outros neurotransmissores, como a serotonina e as endorfinas, proporcionando um sentimento de prazer e levando a que seja muito difícil largar qualquer vício. Como explica Ronaldo Laranjeira, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, «todos os animais, desde a formiguinha até ao ser humano, têm uma região do cérebro responsável pelo prazer, como tal, todos têm tendência para repetir comportamentos que lhes proporcionam prazer».

Mas, como diz o adágio, para grandes males, grandes remédios. Cá por casa o famigerado LOL vai ser desinstalado dos computadores no final das férias para que o enfoque diário passe, de novo, para os livros.

– Lol, pai, vais mesmo fazer isso?

– Lol, filhos, vou.

Por: José Carlos Lopes

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