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Lojas “made in China” invadem a Guarda

Com o negócio de “vento em popa”, comunidade chinesa não pensa deixar a cidade mais alta

A avassaladora invasão asiática também se sente no distrito da Guarda, onde rara é a cidade ou vila que não tem um ou mais estabelecimentos chineses. Só na capital há seis lojas, entre “Shopping’s Chineses” e “Lojas Chinas”, todas vendem o mesmo: produtos a baixos preços. O comércio chinês não pára de crescer. Dentro de dias vai ser inaugurado na cidade outro estabelecimento comercial “made in china”.

Yinzau Chen, 32 anos, originária da província de Xangai, no longínquo “Império do Meio”, deixou o seu país há quase dez anos. Rumou a Portugal à procura de melhor vida, iniciando a sua aventura ocidental no Porto. Mas na capital do Norte a presença de lojistas chineses já era grande. A família Chen optou então pelo interior. Primeiro investiu na Covilhã, mas o mercado não a cativou. Optou então pela Guarda, que demandaram há cerca de cinco anos. Pouco tardou para que a cidade mais alta se tornasse a sua «nova terra» e onde espera ficar «para sempre», afirma sorridente. Casada, com três filhos (de 3, 5 e 11 anos), Yinzau sente-se integrada e nem mesmo as dificuldades linguísticas a preocupam. «Aqui todos ajudam», referindo-se à boa relação que mantém com os vizinhos. Também na escola o seu filho, o mais velho, é «muito querido por todos», assevera. Comercialmente, a Guarda parece ter sido uma boa aposta e, apesar de «trabalhar muito», acredita que faz sentido. Voltar à China é que não: «Aqui vive-se muito melhor», garante.

O facto de hoje se falar muito das lojas chinesas não lhe parece mal, até porque já tem «clientes que gostam de vir aqui» e espera que o negócio cresça. De negativo só mesmo o Inverno, pois não estava habituada a «este frio». A exemplo do que acontece quase sempre nas lojas dos seus compatriotas, a quantidade e variedade de produtos é enorme, se bem que a aposta mais recente é roupa «toda bonita». Abertos todos os dias (sábado e domingo incluídos) e sem horário de trabalho, Yinzau não encerra sequer para almoçar, pois «vem sempre gente». É com essa força de trabalho e espírito de sacrifício que a família Chen já abriu três lojas na Guarda em cinco anos. Yinzau vive com a família numa vivenda e o seu rosto exprime a alegria própria de quem tem sucesso. Aos clientes, esta chinesa pode não dizer muitas palavras bem articuladas, pois aprendeu o português só de ouvido, mas o sorriso de “orelha a orelha” está sempre presente.

Como se riu sempre enquanto “inventava” as palavras que traduziam o sucesso da sua vinda para a Serra da Estrela. Afinal, «o eldorado» para Yinzau. Xiaoyu Ye já tem uma fala “aportuguesada”, o que deixa transparecer que já abandonou o seu país há alguns anos. A Guarda também não foi a primeira escolha. Começou com um restaurante em Viseu, mas, «como era pequeno e o lucro também não era grande», decidiu montar outro na cidade mais alta. E tudo tem «corrido bem» desde então, garante. Actualmente é proprietária do restaurante e mais duas “Lojas China”. Xiaoyu Ye assegura que a crise «não afecta o comércio chinês» e por isso vai abrir outra loja na Guarda, dentro de dias.

À semelhança de outros casos, este “assalto” à Europa foi algo premeditado e a procura de melhores condições de vida foi primeiro indagada pelo marido. Só depois é que Xiaoyu Ye veio para Portugal, onde vive há cerca de 10 anos.

«Já estou habituada a esta cidade, os guardenses são quase todos nossos amigos, sentimo-nos muito bem aqui», adianta, sublinhando que a «amabilidade» e «simpatia» das pessoas também foram determinantes para uma rápida adaptação. O próprio filho não sentiu grandes dificuldades em aprender a nossa língua e, para além de gostar da escola, consegue «bons resultados a todas as disciplinas», diz, com orgulho. Com o negócio de “vento em pompa”, «não penso sair da Guarda», afiança.

Patrícia Correia

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