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Lobo Mau_rício

O Lobo é o Maurício Leite. A piada do título é do próprio, ou não fosse ele “o irónico homem da mala” e a mala um relicário de livros e objectos do mundo, que ele vai retirando cuidadosamente para um ensinamento sério mas cheio de graça. Profissão: arte-educador. A arte que escolheu: a literatura. O nome de um dos seus projectos de vida: “Malas de Leitura e Oficinas de Brinquedos” que conta com a colaboração da UNICEF e da CPLP.

Com uma experiência vasta na Arte-educação, é uma referência internacional na área da promoção da leitura. Passou pela Amazónia, Angola, Moçambique onde levou literatura/cultura a crianças desfavorecidas e onde construiu histórias de vida incríveis, que fazem agora parte da sua actividade de educador. Faz cursos, palestras, consultoria em escolas e bibliotecas, sobretudo no Brasil. Recentemente mudou-se para Portugal, Cascais (que ele diz ser o sítio mais bonito do mundo). E é sobretudo cá que tem trabalhado nestes últimos anos.

Refuta o conceito de literatura infantil, a que normalmente associam o trabalho que promove. Diz que tal conceito não existe. Quem o ouve contar as histórias dos livros que guarda na sua preciosa mala, uma mala tipo Linda de Susa, percebe o que ele quer dizer.

Conheci-o, por acaso, numa sessão pública organizada pela Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço e, mais tarde, assisti a uma formação que leccionou, promovida por essa mesma instituição.

Os livros que traz são pouco conhecidos em Portugal. Da mala saem livros russos, brasileiros, norte-americanos,…muito poucos europeus. Não os lê propriamente…vive-os de forma tão intensa que traduz cada palavra em emoção: alegria, espanto, tristeza, dor, revolta…em vida, aliás. Talvez não haja ninguém que não tenha gostado destes momentos de leitura-prazer, que não tenha sentido essa força da literatura, da qual às vezes nos esquecemos.

Os olhos das crianças brilham, elas agitam-se de forma inesperada no chão onde o Maurício as planta e as rega com sabedoria. E é esta seiva, que é a literatura na vida de cada criança, que ele ensina a sentir e a respeitar como tal.

Em muitos dos lugares por onde andou, ajudou as pessoas a valorizarem os seus conhecimentos e habilidades na área da construção de brinquedos (arte popular). Descobriu e valorizou imensos objectos que são veículos da cultura dos povos que visita. Na sua mala transporta alguns desses brinquedos-cultura que, tal como os livros, nos deixa explorar depois das leituras.

O Maurício vai voltar à Guarda já na próxima semana, para novas sessões de ensinamento, algumas delas à noite. Aconselho vivamente.

Por: Cláudia Quelhas

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