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Livros que nos fazem falta

observatório de ornitorrincos

Começou o verão e Portugal está nos quartos de final do campeonato do mundo. As florestas este ano ardem menos, o que prova que os incendiários também gostam de futebol – ou estão num dos milhentos programas da televisão sobre o mundial.

É agora tempo de fazer o ponto da situação – ou, se o leitor não quiser fazer uma pausa tão grande, uma vírgula da situação – sobre os livros que proximamente estarão disponíveis nas livrarias portuguesas, muito embora algumas farmácias estejam também interessadas em assegurar o exclusivo da venda de livros para não perder quota de mercado para os hipermercados. Além da literatura, parece que Dan Brown, Margarida Rebelo Pinto, Paulo Coelho e três pivots de telejornais vão lançar uns livros de histórias iguais aos anteriores, mas com capas mais bonitas.

Devo referir que estive na Feira do Livro de Lisboa onde, para além de muitas raparigas de top curto e calças descidas, visitei alguns stands dos editores ali presentes. De repente, pareceu-me que existem mais sucedâneos do Código de Da Vinci do que livros de auto-ajuda e biografias de Jesus Cristo – e isto sem contar com as quatro originais compiladas no Novo Testamento. Se fossem alinhadas todas as páginas dos livros de romances históricos enigmáticos, cobririam mais quilómetros que as auto-estradas construídas desde os governos de Cavaco Silva.

No próximo semestre alguns livros que vamos poder encontrar nas livrarias – e se não encontrarmos, é pela curta visão estratégica de escritores, editores e livreiros – contam-se entre os seguintes:

– Fotobiografias de dois dos Três da Vida Airada;

– Como Arranjar Marido em 30 Dias Sem Ir ao Programa do Goucha, o que parece um óptimo conceito, excepto se pensarmos que o seu autor é o mesmo do Como Emagrecer as suas Coxas em 30 Dias, conceito também óptimo que não resultou, como se pode ver apenas por uma simples observação casuística nas ruas das nossas cidades;

– Um livro de auto-ajuda para gente que não consegue dizer os R’s;

– Um manual completo de montar e desmontar aspiradores sem sobrar peças;

– Um tratado de filosofia contemporânea composto exclusivamente por declarações de jogadores de futebol antes e depois dos jogos;

– Mais dois volumes da colecção “Uma Aventura”. Uma Aventura com Agulhas Hipodérmicas e Uma Aventura num Bordel da Fronteira, títulos mais apropriados à idade que os personagens terão por esta altura.

Com esta reentrée literária, o Outono de 2006 poderá ser uma estação mais harmoniosa e aconchegante, principalmente se os livros vierem acompanhados de um DVD com várias modelos nórdicas em lingerie. A leitura deve ser promovida por várias razões, embora agora só me lembre de uma. Quando estamos a ler e está mais alguém em casa temos uma óptima desculpa para pedir coisas, como “traz aí uma sandes de fiambre porque agora estou aqui a acabar este capítulo e se deixo isto perco o fio da história”. E isto, senhora ministra, leva muito mais gente à literatura que trinta planos nacionais de leitura.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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