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Livrança anual salva Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda

Instituição comemorou quarto de século com homenagens aos abstinentes com 20 e mais anos sem beber

Cerca de 80 alcoólicos tratados foram homenageados, no último sábado, pela sua abstinência. Homens, algumas mulheres, de várias idades, receberam um pequeno troféu por terem deixado a bebida há 20 e mais anos graças ao Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda (CARG), que comemorou 25 anos de actividade. Desses, os mais antigos são José Rabaça e Carlos Brito, fundador e presidente da instituição, que já levam 28 anos sem beber.

A cerimónia foi o ponto alto das comemorações da efeméride e juntou, na sala da Assembleia Municipal da Guarda, 250 alcoólicos tratados e respectivas famílias. Fundado em 1983, o CARG foi pioneiro no país a lutar contra o flagelo do alcoolismo. Segundo dados oficiais, já tratou 1.463 doentes, isto sem contar os internados directamente no Hospital Sousa Martins. «Ao todo, estamos a falar em perto de 1.600 pessoas que quiseram ser ajudadas e foram motivadas para o tratamento», adiantou Carlos Brito. Na sua alocução, o presidente da direcção fez um balanço deste quarto de século, feito de «muitas vitórias, alguns sacrifícios e muitas dificuldades», afirmou, recordando ter sido ameaçado várias vezes de agressões por alguns dos alcoólicos que marcaram presença na cerimónia.

«Mas valeu a pena ter voltado a vossas casas e insistido convosco», acrescentou, lamentando, contudo, que ainda não tenha conseguido ultrapassar as dificuldades financeiras da instituição. De resto, o dirigente revelou que o CARG esteve para fechar por duas vezes nestes 25 anos e sempre devido à falta de dinheiro para prosseguir a missão para que foi fundado. Mas ambas foram evitadas pela Câmara da Guarda, que lhe atribui um subsídio anual, e cedeu, em 2006, instalações por um período de 50 anos. «É uma renda que deixámos de pagar e dinheiro que se pode aplicar noutro lado», disse. Carlos Brito lamentou ainda que, apesar da folha de serviço, o centro continue «a viver todos os anos com uma livrança bancária porque, além do apoio da Segurança Social e, sobretudo, da Câmara da Guarda, ninguém nos ajuda. Ainda há autarquias que nos dão um subsídio de 150 euros».

No sábado, a edilidade guardense voltou a reconhecer a importância do Centro de Alcoólicos Recuperados, concedendo-lhe a medalha de prata do município. «A Guarda revê-se e tem um afecto muito grande pelo CARG, pois além de recuperar pessoas, consolidou famílias», justificou o presidente Joaquim Valente. Também a secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação enalteceu o «trabalho exemplar» da instituição, contudo, ainda não foi desta que garantiu um apoio mais regular. «Estamos a trabalhar para acabar, nos próximos anos, com as angústias dos dirigentes de instituições que têm contratos atípicos com a Segurança Social [como o CARG]», declarou Idália Moniz, desafiando depois os ex-alcoólicos a «não perder as oportunidades do programa “Novas Oportunidades”».

Luis Martins

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