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Linha da Beira Baixa

Editorial

1. Passadas as festas, e enquanto o mau tempo assola metade do país e o desaparecimento de Eusébio comove a outra metade, percebemos que a austeridade irá continuar e o governo não tem qualquer alternativa à política de cortes.

É verdade que ninguém tem uma varinha de condão que permita ao Estado arrecadar mais dinheiro, para suportar os mesmos custos, sem ser cortando nas despesas com pessoal e pensões – que representam 80 por cento da despesa ordinária do Estado. Mas ainda assim esperava-se que depois de conhecido o acórdão do Constitucional o governo tivesse imaginação e critério mais alargado e conseguisse encontrar soluções menos penalizadoras para os cidadãos – cortes nas rendas das PPP’s , por exemplo. Afinal não, contorna-se um chumbo, rapando o mesmo osso.

A oposição vai esgrimindo os seus argumentos contra mais sacrifícios e em defesa de políticas alternativas. Mas a verdade é que as medidas sugeridas são débeis e volúveis e os agentes políticos e líderes da oposição não conseguem ocupar o palco e afirmar as suas lideranças. Já ninguém tem dúvidas, Passos Coelho e Portas vão entender-se até ao final da legislatura e Seguro vai ter de esperar por 2015 para conquistar o poder.

2. Os deputados do PSD, eleitos pelo distrito da Guarda, estão indignados porque a comunicação social passou a mensagem de que eles defendiam o fim da ligação ferroviária da Guarda à Covilhã (ver pág. 19). Compreende-se.

Em teoria, são eleitos deputados da nação e não devem defender um território em detrimento de outro. Supostamente, representam o distrito e deviam defender, também supostamente, o interesse da comunidade que os elegeu. E, na prática não defendem coisa nenhuma – votam de acordo com as diretrizes partidárias, aprovam o que o chefe do partido lhes manda aprovar, em nome da distinta disciplina partidária, que em qualquer dos casos é sempre mais relevante e garante mais ganhos (políticos e de carreira) do que a defesa de qualquer desiderato paroquial – o importante é ser fiel ao chefe e ao partido.

Esquecem-se os senhores deputados de que, para além dos partidos e dos seus interesses, e muito para além de propostas, projetos, disputas partidárias ou histórico de responsabilidades (e não há dúvidas que o anterior governo foi quem abandonou a linha da Beira Baixa em primeiro lugar) existem as legitimas expetativas de um povo que ao eleger os seus deputados (supostos representantes no conclave legislador) estes venham defender acima de tudo o interesse do distrito. Ou, como os deputados argumentam, mesmo que eles em nenhum momento tenham esquecido a sua origem, responsabilidade ou o interesse regional, os eleitores da região querem sentir e ouvir a defesa intransigente da manutenção de vida no Interior; as pessoas, as que ainda vivem no Interior, exigem que os seus deputados defendam os serviços, as infraestruturas, as instituições que aqui funcionam e não reduzam tudo ao jogo partidário, dobrados perante Lisboa. E precisamente porque as pessoas ainda acreditam, protestam por não haver a expressão superior da defesa intransigente da ligação ferroviária Guarda-Covilhã. Talvez os senhores deputados não saibam, mas as grandes opções da região passam pelo eixo Guarda-Covilhã. Não queiram ficar à margem dos acontecimentos.

Luis Baptista-Martins

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