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Lindstrom & Prins Thomas

A Idade da Experiência

Há muito tempo que a questão existe: a música de forte pendor rítmico, terá de obrigatoriamente provocar a dança? Nem sempre. E os casos sucedem-se na história. O funk no domínio psicadélico de Sly b& The Familiy Stone em “There’s A Riot Going On”, usou apenas uma forma de expressão musical ligada a uma comunidade para retratar uma realidade social. Os reggae “roots”, embebido portanto da cultura Rasta, recorria a um ritmo altamente apelativo, para ser forma de canção de protesto. E para finalizar os exemplos, que dizer do ritmo intricado, tenso – entre um funk cortante e uma proximidade ao reggae mais sincopado – utilizado para a narrativa de horror de “Kalakuta Show”, quando o complexo residencial “Kalakuta Republic” do mítico Fela Kuti, foi vandalizado pela polícia Nigeeriana nos anos 70? Por outro lado, dentro do domínio da síncope, embora mais linearizada, o “disco–sound”, nasceu como consequência musical da comunidade “gay” sobretudo de Nova Iorque, poder exultar a vida como qualquer cidadão. E o “disco” dança-se?

A resposta à pergunta lançada no final do parágrafo anterior, é em princípio afirmativa, mas, poder-se-á encontrar uma breve negação. Reportemo-nos outra à história, para relembrar os deliciosos Deee-Lite, dos dois primeiros álbuns. Aí, o “p-funk”, o “disco”, o “house” o “hip-hop”, todos sem fronteiras definidas nas construção de uma canção, eram motivo de celebrar a alegria da música, não esquecendo a componente de preocupação social, como era o caso do mau uso dos recursos naturais do planeta Terra. Penso agora ter construído alicerces para fundamentar a minha tese em relação a Lindstrom & Prins Thomas. Começam por uma peça que se poderá considerar “disco-sound” vista um pouco à luz da electrónica de dança actual, não esquecendo contudo as lições deixadas pelos míticos Kraftwerk, desviando depois ligeiramente o sentido seguido da trajectória para iniciar um momento lúdico mas quase intimista, ainda em regime “disco” mas com uma aproximação ligeira à matriz do “p-funk”. Contudo a partir da terceira música inicia-se o sonho. Sendo um instrumental, estamos perante um momento onírico de viagem pela interior da alma, como se estivéssemos numa estrado pelo meio de uma floresta, e aí cada elemento da vegetação seria uma célula das nossas memórias. E, já agora, estando no domínio do sonho, onde as viagens são intemporais e físicamente ilimitadas, damos um pulo na nossa nave espacial e as estrelas representam momentos de redenção da nossa vida. Prosseguimos no cosmos, lugar de todas as paixões e invenções impossíveis de realizar num lugar terreno, até começarmos a deixar a reflexão e construímos uma aventura. Mas, um sonho não dura sempre, e temos de acordar, e por que não a sonhar com um mundo tecnologicamente perfeito, onde existe amor entre os homens, e não há horror, ódio e tristezas?

Nem sempre é possível encontrar o idealismo, mas a música de Lindstrom & Prins Thomas, alicerçada em estruturas rítmicas fortes, permite-nos imaginar um mundo idílico: E para terminar, então a música de forte pendor rítmico dança-se? Sim, mas há espaço da criar um lugar intimista, apelando esta ao movimento somente da alma.

Por: Paulo Sebastião

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