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Ligação de Vila Franca das Naves ao IP2 no meio de quatro casas

«É melhor termos este traçado do que nada», considera presidente da Câmara de Trancoso a propósito da nova solução

«Não sei como vai ser possível cruzarem-se aqui dois camiões». A constatação é de um dos moradores de uma das quatro casas localizadas na rua dos Moinhos, por onde está previsto passar a variante do IP2 de ligação a Vila Franca das Naves. O habitante, que prefere não se identificar, refere-se à largura da via e às limitações na sua ampliação no âmbito daquele projecto, já que é ladeada por quatro casas. A Câmara de Trancoso reconhece que o traçado não é o ideal e explica que o anterior, pensado para uma zona de terrenos agrícolas, foi chumbado pelo Ministério do Ambiente.

O novo traçado corre paralelo ao antigo, a alguns metros, e coincide com a EM 580, passando entre quatro casas, que ficarão localizadas entre as duas novas rotundas previstas no projecto. «Ali por trás (antigo traçado) era melhor, mas se não há outra solução lá terei de pagar o preço do desenvolvimento», afirma, por sua vez, Manuel Carvalho, outro morador, para quem o importante é a sua casa não ir abaixo. «Cabem duas vias e, por isso, não vejo inconveniente», refere, reconhecendo, porém, que haverá «algumas limitações» na nova estrada. «O melhor é ser colocada sinalização de não ultrapassagem e circulação a baixa velocidade», sugere. De acordo com as medidas tiradas por O INTERIOR no local, a distância entre os muros que delimitam as casas é de cerca de 8,40 metros naquele que será o ponto mais estreito, sendo que a via tem uma largura de aproximadamente cinco metros. Os dois moradores admitem que a estrada não poderá ser muito maior, já que terá de ser deixada distância dos muros que delimitam as suas propriedades e construídos passeios, esperam.

Em Vila Franca das Naves, circula, de resto, um comunicado anónimo que contesta a obra e apelida o local em causa de «Rua do Garrote», questionando-se se haverá espaço para «uma estrada entre quatro casas». O documento, a que O INTERIOR teve acesso, põe também em causa a construção de uma das duas rotundas, situada ao início da rua, apelidando-a de «rotunda da conveniência», assim baptizada por alegados interesses. «É melhor termos esta solução do que nada», considera o presidente da Câmara de Trancoso. Júlio Sarmento recorda que o Ministério do Ambiente deu parecer desfavorável à primeira solução de acesso, «em Julho ou Agosto do ano passado». O novo traçado, cuja versão final tem uns três meses, «foi uma imposição, que o condiciona ao aproveitamento da EM 580», refere o autarca. Quanto às rotundas, o edil diz que servirão para «moderar o trânsito».

Ligação ao IP2 esteve «em risco»

De acordo com a declaração de impacte ambiental – documento que foi posto também a circular na vila, como resposta ao comunicado anónimo –, há «impactes negativos sobre o uso do solo e sócio-economia decorrentes do desenvolvimento do projecto sobre áreas de vinha e olival». Por isso, a ligação de Vila Franca das Naves ao IP2 deverá «proceder ao aproveitamento da EM 580, conforme consta da planta de ordenamento do PDM», sendo que o projecto a desenvolver «deverá minimizar a afectação das áreas agrícolas e das áreas integradas no Aproveitamento Hidroagrícola de Tamanhos/Carnicães». O documento aconselha uma velocidade base de 80 quilómetros por hora. Segundo Júlio Sarmento, houve uma reunião na Câmara de Celorico da Beira após o chumbo do Ministério do Ambiente, em que participaram, entre outros, os autarcas de Trancoso e Vila Nova de Foz Côa e deputados eleitos pelo distrito na Assembleia da República para tentar ultrapassar os impactes ambientais negativos.

«Correu-se o risco de não termos a ligação a Vila Franca das Naves», garante Júlio Sarmento, para quem a vila tem «mais sorte que Trancoso», visto que a sede de concelho «terá de esperar pelo IC26 para ter uma variante», no entanto a via a construir não será uma variante, como refere o autarca, mas uma estrada de acesso ao IP2. «Esta é a única solução viável», assegura a presidente da Junta de Vila Franca das Naves. «O traçado já não é propriamente um troço de IP, porque é praticamente urbano», refere Adelina Vaz, admitindo, no entanto, que preferia um «acesso que pudesse ficar mais largo».

Rotunda motiva pedido de reunião

A Governadora Civil da Guarda, Maria do Carmo Borges, já recebeu um pedido de reunião de «dois cidadãos» sobre o novo traçado deste ramal entre Vila Franca das Naves e o IP2. «Os cidadãos em causa mostraram alguma apreensão em relação a uma das rotundas», adianta Maria do Carmo Borges, que lhes pediu uma exposição técnica por escrito por forma a ser enviada posteriormente para a Estradas de Portugal (EP).

A distância entre os muros das casas é de 8,40 metros e a estrada mede cinco

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