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Liderança de Viseu seduz Fornos, Gouveia e Seia

Comurb da Beira Interior Norte também não vai para lá da Serra da Estrela

A Comurb da Beira Interior Norte não seduz Fornos de Algodres, Gouveia e Seia. Os três municípios serranos não querem misturas e deverão virar costas à primeira entidade administrativa intermédia da região para abraçar o projecto da Comunidade Urbana ou Área Metropolitana de Viseu. Fornos de Algodres já formalizou essa intenção, enquanto Gouveia e Seia deverão decidir em Janeiro. A «capacidade de liderança e de reivindicação» de Viseu, bem como o fracasso de uma eventual Comunidade Urbana da Serra da Estrela, são os principais argumentos invocados pelos três autarcas do distrito da Guarda.

Estão então traçados os limites da futura Comurb da Beira Interior Norte, que não irá para lá da Gardunha e da Serra da Estrela, com os municípios limítrofes a acenar com «sensibilidades e afinidades» diferentes. Depois de Seia ter anunciado que não se revê naquela associação multimunicipal, Fornos de Algodres e Gouveia deram esta semana um passou decisivo a caminho de Viseu, juntando-se a Aguiar da Beira, que também vai aderir à futura Área Metropolitana. No primeiro caso, José Miranda, autarca fornense, explicou que a decisão tem em conta uma «longa tradição de trabalho» com a região de Viseu, «a proximidade, uma maior identificação da população com esta região, até porque Fornos de Algodres é um concelho periférico do distrito da Guarda». Argumentos a que se juntam a outros determinantes para a gestão municipal, pois o presidente considera que só associando-se a Viseu é que Fornos poderá defender melhor os seus interesses. «Em termos de desenvolvimento do concelho, da captação de investimento e de fundos comunitários, a melhor opção será aderir à Comunidade Urbana ou Área Metropolitana de Viseu», garante Miranda, para quem esta entidade intermédia já tem «actualmente capacidade de liderança, massa crítica, está a caminhar mais rapidamente e é uma região que futuramente deve ter capacidade reivindicativa em defesa de mais dinheiro» para a região.

Gouveia segue Seia

Em Gouveia, a Assembleia Municipal vai reunir-se em sessão extraordinária para discutir o tema em Janeiro, mas já é certo que Viseu tem mais adeptos que a associação de municípios da Guarda e da Cova da Beira. Na “cidade jardim” ainda ninguém esqueceu a Beira Interior proposta aquando da regionalização: «Não quero a Serra da Estrela mais isto ou aquilo, porque isso já não é a Serra da Estrela», refere Álvaro Amaro, presidente do município. E gorada que está a constituição de uma Comunidade da Serra da Estrela (com os concelhos de Guarda, Seia, Gouveia, Celorico da Beira, Manteigas e Covilhã), o autarca adianta restarem poucas alternativas aos gouveenses, que também não se revêem no projecto emanado da Associação de Municípios da Cova da Beira. «Eu defenderei claramente que Gouveia vá para Viseu», uma opção já defendida na Assembleia Municipal do último sábado por constituir uma «vantagem» para o concelho. De resto, desvaloriza os receios de que o distrito da Guarda esteja a desmembrar-se, uma vez que o que está em causa é «apenas mais um modelo associativo de municípios para obter determinados benefícios, à semelhança do abastecimento de água e dos resíduos sólidos urbanos, não tem nada a ver com a morte dos distritos». No entanto, a decisão de Gouveia será condicionada pela opção de Seia, com Amaro a dizer que se os vizinhos votarem por Viseu «então, a minha opção será a mesma», adianta.

Quem gostou de ouvir estas posições foi Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu, que já disse serem boas notícias. «A adesão de Gouveia e Fornos de Algodres, bem como a perspectiva de Seia aderir, traz aquela componente da Serra de que nós estávamos à espera». Um anseio que deverá contar com Seia, onde a autarquia vai auscultar os cidadãos. Eduardo Brito, edil senense, esclareceu na semana passada que, perdida a oportunidade de constituir a Comunidade Urbana da Serra da Estrela, principalmente com os municípios que formam o Parque Natural, Seia «deve repensar o seu posicionamento numa altura em que todas as opções estão em aberto». Pelo que os munícipes vão ser chamados «a pronunciar-se» entre a Comunidade Urbana da Beira Interior Norte e a Área Metropolitana de Viseu. «O município não se revê na primeira e não fecha a porta à segunda», refere o autarca, que lamenta não ter havido «condições favoráveis» à criação da Comurb da Serra da Estrela. «Tudo volta à “estaca zero”. O debate vai agora centrar-se sobre a opção de Seia, avaliando os prós e contras das várias propostas», sublinha Eduardo Brito, anunciando que a autarquia vai avançar com um conjunto de iniciativas ao nível dos partidos, instituições, associações empresariais e comunidade em geral. Numa primeira fase, a Comurb da Beira Interior Norte envolve os municípios de Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso, pertencentes à Nomenclatura de Unidade Territorial (NUT) da Beira Interior Norte, e ainda os concelhos de Covilhã, Belmonte e Fundão, da NUT/Cova da Beira e Penamacor, da NUT/Beira Interior Sul.

Luis Martins

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