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Licenciaturas & licenciaturas

Como já sou colaborador deste jornal há uns anos, pela experiência de vida entretanto adquirida, com um processo em tribunal por delito de opinião pelo meio, vou pedir à Lusófona que me dê equivalência a Jornalismo e a algumas cadeiras de Direito (risos).

Ainda sou do tempo das velhas e trabalhosas Licenciaturas, com cento e oitenta créditos, uns mais suados do que outros, mas nenhum deles, com toda a certeza, oferecido ou comprado.

Vem isto a propósito da licenciatura (a minúscula é propositada), alegadamente, “oferecida” ao ministro Relvas. O Miguel está apenas a provar, em doses bem maiores, do veneno que, eventualmente, tentou lançar sobre uma jornalista. É interessante verificar o empenho que os media têm posto na abrasão do nome do notável. No entanto, o que ele fez relativamente à obtenção do seu grau académico, foi aproveitar uma brecha aberta pelo ministro Gago que, em 2006, resolveu acabar com os exames ad-hoc e substitui-los por exames a nível da instituição universitária. O processo prevê «uma apreciação do currículo profissional e de provas práticas ou teóricas destinadas a avaliar as competências consideradas indispensáveis ao curso». Miguel Relvas entrou de forma legal num curso, disso não há dúvidas, agora se o terminou da mesma forma, só os tribunais, aos quais nunca chegará o processo, poderão decidir.

Quantos casos como o de Relvas teremos entre os políticos que nos cercam? Estranho os silêncios comprometedores de alguns eminentes políticos, pois provavelmente estarão à espera que o fogo não lhes chegue e que algum jornalista ressabiado ou com instinto investigador não se questione acerca do seu percurso académico. Convém não esquecer que a política a tempo inteiro, que muitas vezes começava nas jotas, nunca foi compatível com o empenho, o suor e as lágrimas necessárias à conclusão de um curso universitário. Se juntarmos à fome a vontade de comer, compreenderemos melhor o surgimento nos inícios dos noventa de muitas universidades privadas, as quais poderiam fazer os servicinhos sem dar muito nas vistas e beneficiar, em troca, de outros. E se as coisas começassem a correr mal encerravam-se compulsivamente, como fez o Gago à Independente. Receio que se as coisas com o Relvas continuarem a cheirar mal o mesmo destino seja dado à Lusófona.

No meio de toda esta cacofonia relviana aparece “a personagem”, o Dr. Mário Alberto. O Dr. Mário provavelmente terá conseguido o seu grau universitário, apenas o primeiro de muitos graus entretanto conseguidos “honoris causa”, da forma como antigamente se conseguiam, apesar de já ser político, veio agora botar trémula e confusa faladura acerca do ministro caído em desgraça, dizendo: «É uma coisa inaceitável para qualquer pessoa de bem».

«Como é que é possível? Um cidadão diz-se licenciado numa universidade, e depois verifica-se que não foi lá, que pagou, e ainda por cima depois vangloria-se. Para mim não é possível». Pois é Dr. Mário, tenho mesmo muita pena que o senhor não tenha afirmado exatamente a mesma coisa e com a mesma indignação quando há uns tempos um primeiro-ministro do partido do qual o senhor se diz fundador fez cadeiras em tempo recorde, algumas ao fim-de-semana, na Independente! Tinha-lhe ficado tão bem ficar calado agora como ficou antes! Mas compreende-se que a sua vetusta idade já o possa confundir um pouco e levá-lo a pensar que está a falar de algum ministro PSD dos tempos do Cavaco.

A culpa de tudo isto é a de uma imprensa, infelizmente, de esquerda que tudo perdoa aos do punho fechado e que, com prazer sádico, desfaz quem à direita, com ou sem razão, lhe faz frente. Declaro que não tenho qualquer simpatia pelo senhor Relvas, apenas quero ser factual.

Estou a imaginar daqui por uns anos, se é que não acontece já, uma entrevista de emprego a começar com uma série de perguntas como as que se seguem: “O Sr. é ou foi político e tem curso universitário?”; “A sua licenciatura/mestrado/doutoramento são pré ou pós-Bolonha?”; “Licenciou-se por alguma universidade privada com nome comprido/duvidoso?”. Ressalvo o facto da primeira pergunta ser uma impossibilidade pois desconheço a existência de alguém que, tendo tido um qualquer cargo político de monta, necessite de ir a entrevistas de emprego, pois, citando Paulo Morais, vice-presidente da ONG “Transparência e Integridade”, «o Parlamento é o grande centro da corrupção em Portugal e uma enorme central de negócios». Não há “troika” que nos valha!

Por: José Carlos Lopes

Comentários dos nossos leitores
tózesilva tozesilva2012@gmail.com
Comentário:
Só num país de doutores e engenheiros é que isto é importante. Será que este homem não fez outras vigarices mais escabrosas?! Será que não há outras vigarices cometidas por aqueles 230 senhores e afins que nos levaram a esta situação económica “de rastos” que urge denunciar e são bem mais importantes do que este ato deste “chico esperto”. Será que as despesas exageradas, as construções para nada, as festas, as receções…. não são mais importantes. Vá lá tenham coragem, atirem-se aos “leões” e dominem-nos.
 

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