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Leitor de cacetes

observatório de ornitorrincos

O leitor mais habitual desta coluna – um indivíduo com mau carácter possuidor de uma Famel Zundapp, um cão e um herpes labial – sabe que neste espaço se procura que as opiniões sejam como eu gostaria que fossem todas as camisas de Scarlett Johansson: justas e transparentes. Por isso, muitas vezes terei sido incongruente. A transparência, é sabido, tanto nos torna ambíguos com nos mostra umbigos. E um umbigo ambíguo é um umbigo do peito. Já da justiça dizem-na postiça porque uma decisão à justa nem sempre é uma decisão justa. O Observatório é um pequeno espaço de criação e recreação. Aqui fui pouco ponderado e muito apoderado. Nunca fiquei estupefacto, porque nunca me quis meter nos estupefacientes, mesmo sabendo que tais substâncias substantivam a fama de quem tem por mister este mistério de combinar as letras numa ordem aleatória.

No Observatório de Ornitorrincos as personagens principais são as letras, as palavras e um jardineiro de galochas que curiosamente nunca apareceu. É aqui que me identifico com Freitas do Amaral. Gosto de usar as palavras para delas fazer um uso disparatado. Como “licencioso”. Que é um licenciado em vergonhosa ociosidade. Provido de uma libertinagem sem freios. E, como diz o povo sensato, quem o freio ama, um Tito lhe aparece. A gripe das aves constitui uma ameaça precisamente pela licenciosidade com que percorre a Europa. Sem respeitar as interdições religiosas, entre as quais se encontram o respeito e a inviolabilidade pela iconografia e estatuária de prelados e santos, sempre invadidas por pombos a rolar e outras aves de arribação, como os simpáticos jovens multiculturalistas tolerantes, sempre prontos para defender a burqa e eternamente atiçados ao kippah e ao colarinho branco.

Na última encíclica papal Bento XVI afirmou que o sexo não pode estar separado do amor. Compreendo e registo. A masturbação agora está apenas ao alcance de católicos com elevados altos níveis de auto-estima. O amor é sagrado mas tem dias que é segredo. O bispo de Roma é um Sumo de ponta, de pomos seleccionados. Não se levantem as hordas religiosas da cadeira para protestar. Nada do que aqui está escrito ofende a simbologia católica. No máximo pode ofender um ou outro cristão mais islamizado que não gosta de ver o seu líder espiritual representado, muito menos por jogos semânticos tão fraquinhos como estes aqui espalhados.

Aqui pretendi sempre manter um olho clínico e um olho cínico sobre o charco e os ornitorrincos que nele habitam. Houvesse aqui talento e talvez Eça ou aquela outra tivessem de mim inveja. Portugal segue na mesma, mais lento que a lesma, ultrapassado pelas tartarugas ninja, deitado à sombra da bananeira republicana com febre-amarela. É a velha fábula conhecida como “A Febre e a Tartaruga”.

EU VI UM ORNITORRINCO

Luís Felipe Scolari

O treinador da equipa de todos os sapos demonstrou interesse em treinar a selecção inglesa quando soube da saída de Eriksson, perguntou se haveria vagas na administração da SONAE quando Belmiro de Azevedo se reformar e quando teve conhecimento da dificuldade na sucessão dinástica do Japão, enviou um fax para Tóquio a oferecer os seus préstimos como Imperador. Japonês aprende-se facilmente e o contrato de Felipão acaba em Julho.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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