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Legislativas 2009

A campanha eleitoral deixava adivinhar o que aconteceu nas eleições. Depois de um período de pré-campanha onde os debates televisivos foram fundamentais para o esclarecimento de muitos eleitores, tivemos uma campanha que ficou marcada por acontecimentos laterais aos programas eleitorais de cada força partidária. Apesar de tudo, foi perceptível, com o decorrer dos dias e na linha do que tinha acontecido com os debates, o bom desempenho e crescendo de José Sócrates e de Paulo Portas, a estagnação da CDU, alguma perda de performance por parte de Louçã e a falta de “jeito” que Ferreira Leite demonstrava perante a estratégia por si delineada.

A nível distrital, as campanhas decorreram com normalidade e sem nada de especial a destacar. Negativo, na minha opinião, foi o facto dos dois principais partidos no distrito não terem efectuado, como era habitual, um programa mais diversificado, do ponto de vista temático e geográfico, com a presença do respectivo líder, e que culminasse com uma grande realização de mobilização de apoiantes. O facto de se elegerem só quatro deputados e de, à partida, a não ser que existam factos anormais, a sua distribuição estar garantida, leva a que os decisores nacionais tomem, erradamente, estas opções.

O PS é o vencedor das eleições. Quem ganha, nem que seja por um voto, é vencedor. Grande vitória de José Sócrates que “aguenta” muito bem o PS face ao contexto nacional e internacional de crise.

O PSD aumenta o número de deputados e ganha mais alguns distritos do que em 2005, mas tem uma grande derrota porque o seu objectivo era a vitória. Enquanto em actos eleitorais anteriores havia flutuação de votos entre PS e PSD, penalizando um para dar ao outro, desta vez o PSD não conseguiu capitalizar os votos perdidos pelo PS. Grande derrota de Ferreira Leite e Pacheco Pereira, como seu ideólogo, a nível nacional e de Álvaro Amaro a nível distrital. Uma pergunta cabe fazer em relação ao PSD. Com Passos Coelho teria acontecido o mesmo? Seria igual, melhor ou pior?

O CDS e o BE aumentaram consideravelmente o número de deputados e de votos e são vencedores, mas o BE fica aquém do objectivo: não é a terceira força partidária e não consegue mandatos suficientes para, com o PS, fazer uma maioria de deputados.

A CDU aumenta, só um, o número de deputados. Podemos dizer que há uma vitória com tendência para a estagnação e com o “amargo de boca” de passar a ser a quinta, e última, força partidária, atrás do BE, no Parlamento.

No distrito, o panorama, com pequenas nuances, é igual ao nacional. O PS ficou com uma percentagem ligeiramente menor do que a média nacional – em 2005, a percentagem distrital tinha sido maior do que a nacional –, o PSD fica acima da média nacional, o que também não é novidade. O BE, CDS e CDU sobem como aconteceu a nível nacional e a abstenção também foi maior do que a nacional, o que tem acontecido sempre. Houve entretanto, nalguns concelhos e freguesias do distrito, resultados inesperados. Embora entenda que são eleições diferentes, sem dúvida que alguns ficaram mais animados e outros mais preocupados para as autárquicas. Por isso, estou expectante para ver se determinados “sinais” se mantêm.

Ainda num contexto distrital, gostaria de realçar o resultado de Braga. Num contexto de perda para o PS, e com perda de mandatos nos círculos eleitorais mais significativos, naquele distrito o PS consegue manter nove mandatos. A este facto terá que ser associada a boa lista apresentada, encabeçada pelo excelente político que é António José Seguro. Mais uma vez fez uma campanha brilhante.

Agora vão seguir-se dias e semanas palpitantes com as autárquicas e com os desenvolvimentos políticos resultantes destas eleições. Entendo que há condições de governabilidade. Cada partido terá que assumir as suas responsabilidades. O PS deve governar com as suas propostas e o seu programa. No PSD vão seguir-se momentos para preparar a substituição de Ferreira Leite e é provável que assistamos a uma “clausura” de 15 dias. Parabéns aos vencedores e votos de bom trabalho aos eleitos. Para terminar, quero aproveitar esta oportunidade para, sete anos e meio depois de ter iniciado as funções de deputado e agora que elas vão cessar, agradecer a todos os cidadãos do distrito os apoios e criticas que recebi. Um agradecimento especial para os militantes e simpatizantes do PS. Sem esses apoios e críticas não teria sido possível levar por diante muitas das iniciativas desenvolvidas em prol da Guarda.

Por: Fernando Cabral *

* deputado eleito pelo PS entre 2001 e 2009

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