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Largos Dias Têm Onze Anos

Em 1994, com o Toni ao comando do Benfica, a imprensa era unânime na crítica às exibições do Benfica. Mesmo “A Bola”. A equipa ganhava mas não convencia. À excepção do jogo com o Sporting, o do 3-6, todas as vitórias pareciam de aflitos, ao cair do pano. Adivinhava-se a década seguinte, mas havia, como há, outra coisa: em relação ao Benfica a crítica é sempre muito mais exigente, quase tão exigente, diria, como os sócios e adeptos do próprio clube. É que um benfiquista não se contenta em ganhar. A vitória, para ele, não é um fim em si mesmo. Para ele, saber que ganhou com o favor da arbitragem é uma humilhação muito superior ao benefício dos três pontos conquistados. Um benfiquista exige sempre a excelência, mesmo que não tenha, e não tem hoje, os meios para a atingir.

É por isso que, juntamente com a alegria da quebra de um tão longo jejum, celebramos a vitória sobretudo com bom humor: ganhámos, e com a equipa aparentemente mais fraca, e mais curta, dos três grandes. Fomos, de muito longe, quem geriu melhor a escassez dos seus recursos, quem menos desperdiçou. Fomos, se quiserem encarar a coisa assim, um exemplo para o país.

Há quem procure encontrar falhas na nossa vitória e procure mesquinhamente favores da arbitragem em cada penalti duvidoso, em cada expulsão menos clara. Façam-no. Continuem a satisfazer-se com essas pobres alegrias. São no fundo uma homenagem: dizem-no porque sabem que para nós, benfiquistas, só uma vitória sem mácula é uma verdadeira vitória. Mas se insistirem, tenho duas palavras para vós, os detractores verdes de inveja e azuis de raiva, vós, aqueles que confiavam em que a mala pata do Benfica iria durar para sempre. E essas duas palavras são: “Apito Dourado”.

Poderíamos pensar que chegou ao fim uma era e que, a partir de agora, os fins deixariam de justificar os meios e que a excelência, ou a sua procura, passaria a ser outra vez um objectivo. Que diabo!, dirão ainda, o fim da depressão em que estavam afundados seis milhões de portugueses não será o bastante para o relançar da economia, não será o sinal do fim da crise? Lamento mas não.

É que o estado em que nos entregaram o país é demasiado mau para o conseguirmos endireitar, mesmo nós. Foram demasiados anos de corrupção à solta, de putas tristes em hotéis sombrios, de tráfico de influências, de soluções fáceis, mas efémeras, para problemas difíceis.

Sugiro que procurem noutro lado um salvador para a pátria, por exemplo entre Pinto da Costa, Valentim Loureiro ou Santana Lopes – o vosso mundo, não é? Quanto a mim, que acabo de ver na televisão, num concurso de cultura geral em que deveriam participar apenas os melhores, uma concorrente dizer que Jorge Luís Borges é português, eu já não tenho ilusões.

Por: António Ferreira

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