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Lageosa da Raia abre época da capeia

Concelho do Sabugal vive em Agosto ciclo taurino sem equivalente em Portugal

Agosto é, sem dúvida, o mês por excelência das festas na raia. Das corridas de touros aos encerros e às capeias com forcão, a tradição mantém-se ano após ano e ganha mesmo galões de ciclo taurino com muita afición. É assim no concelho do Sabugal, onde a capeia raiana atrai milhares de seguidores, curiosos e outros amantes dos touros e da tradição de uma comunidade. O espectáculo assenta arraiais na praça de cada aldeia, transfigurada por bancadas improvisadas em andaimes, tractores, muros e taipais, nos quais se apinham centenas e centenas de espectadores, prontos a vibrar a cada investida do touro.

A Lageosa da Raia abriu o programa mais esperado do mês de Agosto, marcado também por festejos religiosos carregados de devoção. É que a tradicional capeia realiza-se sempre nas diversas localidades por ocasião das festas religiosas, constituindo mesmo o ponto alto das celebrações. Como sempre, a festa começou com o encerro, durante o qual os touros que serão lidados na praça correm em campo aberto, vindos de Espanha, até à arena improvisada, no centro da povoação. Mas a capeia só começa ao fim da tarde, após os mordomos pedirem a praça à pessoa mais importante da aldeia ou ao público. Obtido o consentimento neste cerimonial de décadas, é tempo do primeiro de seis touros pôr à prova a valentia dos homens. Contudo, a expectativa saiu defraudada, o que provocou alguns protestos do numeroso público presente na Lageosa. Já o segundo, bastante encorpado, proporcionou momentos mais intensos com as suas investidas ao forcão, onde cerca de trinta homens não quiseram deixar ficar mal a aldeia. Mas os problemas pareciam persistir na arena e a falta de água na localidade só não estragou a festa, por causa da poeira levantada com as movimentações do forcão e do touro, graças à prontidão dos Bombeiros Voluntários do Soito, chamados ao local para regar o recinto.

Para Jorge Gomes, de 25 anos, vindo da vizinha Aldeia Velha, a tradição começa a perder-se: «Há cada vez menos gente a assistir e menos jovens com coragem de enfrentar o touro», lamenta, acreditando que «este é um ano mais fraco» comparado com edições anteriores. Apesar de não ser grande aficcionado, o jovem assistiu este ano à capeia da Lageosa por não poder ver a da sua aldeia: «Acabo sempre por ver pela tradição e não pelo gosto», esclarece. Até porque acha «uma brutalidade» a forma como tratam os animais depois das touradas, acusa Jorge Gomes, para além de considerar uma «enormidade» o dinheiro gasto. «Este ano em Aldeia Velha só a capeia vai custar cerca de 12,5 mil euros», exclama, um preço «muito caro» para pagar uma tradição. «Os encerros são a parte de que mais gosto», confessa o jovem. Já António Salvador, de Almeida, não comunga do mesmo pessimismo, até porque vem todos os anos assistir às capeias numa localidade diferente. No ano passado esteve em Aldeia do Bispo, mas optou desta vez por vir «à primeira» na Lageosa da Raia. Na sua opinião, esta é uma tradição «que não deve acabar» e, apesar de não perceber muito de touradas, vibrou com as investidas do segundo touro: «Este sim! Era um bom touro», sentencia.

Mas este foi apenas o início de várias semanas cheias de festa, emoções fortes, valentia, destreza e bairrismo. Da Lageosa à Aldeia Velha, passando por Aldeia do Bispo, Seixo do Côa, Rebolosa, Ruivós, realizadas no decurso desta semana, é todo um programa que vale a pena acompanhar. Hoje e nos próximos dias, é a vez dos Fóios, seguem-se Ruvina (dia 13), Aldeia da Ponte (dia 15), Forcalhos (dia 16), Alfaiates (dia 17) e Vale das Éguas (dia 18). A despedida acontece todos os anos em Aldeia Velha, que acolhe a última capeia da época, no dia 25. Até lá realiza-se sábado o tradicional festival “Ó forcão rapazes”, na praça de touros de Aldeia da Ponte. O autodenominado “campeonato do mundo do forcão” reúne oito aldeias (Aldeia Velha, Fóios, Soito, Ozendo, Aldeia do Bispo, Aldeia da Ponte, Forcalhos, Lageosa da Raia) que vão medir forças e arte com touros da ganadaria de Francisco Carrão, Sousel.

Patrícia Correia

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