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Kill Bill – Vol. 1

Corta!

O melhor mesmo é ir directo ao assunto e dizer desde já que valeu bem a pena ter esperado seis anos pelo regresso de Quentin Tarantino e que ainda não foi desta que o realizador de «Pulp Fiction» fez um mau filme. Por isso, aconselha-se calma a todos os que aguardam pelo primeiro deslize do senhor. Filme que os personagens dos anteriores filmes de Tarantino certamente não perderão no cinema (é tão fácil imaginar Mia Wallace, Vincent Vega ou todos os «Cães Danados» a vê-lo) «Kill Bill» só poderia ter sido feito por alguém que não gosta apenas de cinema, mas vive e respira essa arte tal como o comum dos mortais necessita de ar para viver. Claro que tudo isso causa alguns exageros que esses mesmos comuns mortais dificilmente conseguirão acompanhar, mas isso é problema de cada um.

No seu quarto filme, Tarantino espalha as suas paixões por toda a tela, que vão desde os westerns spaghetti até aos mais refundidos filmes nipónicos, socorrendo-se da sua musa Uma Thurman. Paixões essas aqui transformadas em fogo de artificio (visto de uma montanha russa), como se uma criança, em fim de noite de Natal, explorasse febrilmente e até ao limite todas as prendas que recebeu. Com tanto espectáculo pirotécnico, Tarantino lança os foguetes, filma as explosões e ainda vai a tempo de apanhar as canas.

Dividido em dois volumes, numa moda que tem vindo a «mutilar» várias obras no cinema mais recente, em «Kill Bill» há uma noiva (Uma) que alguém quis matar quando esta ia casar, para mais estando esta grávida, e que para desgraça de quem fez tal tentativa afinal não morreu, tendo ficado apenas quatro anos em coma. Ao acordar, segue-se a vingança. Parece simples? Ainda bem, pois neste filme os gestos valem mais que palavras.

A transbordar de violência, com sangue a jorrar por todos os lados, em quantidades poucas vezes vistas, Tarantino surge aqui (como dito de forma bastante inteligente por João Lopes) como movie-jockey. E se disc-jockeys é coisa que já há muito existe, o realizador que salvou o cinema independente americano com «Reservoir Dogs» nos anos 90, parece aqui inaugurar uma nova categoria de artista, tal a sua perícia na passagem de estilos, ideias e influências, como se de simples cruzamentos de obras exteriores e alheias se tratasse.

Voltando um pouco atrás no tempo e para quem pensava que «Jackie Brown» era um atestado de invalidez (enorme injustiça), descobre-se agora que afinal era apenas um movimento «low-profile» de um realizador que tentava fugir à enorme pressão que sobre ele se abatia, mas que agora, com «Kill Bill», quer que olhem de novo para ele e não se faz, de todo, rogado, recorrendo a tudo o que tem para chamar as atenções sobre si. O mais difícil agora vai ser esperar até Fevereiro, ou Março, para vermos como tudo isto irá terminar. Tarantino é um palhaço, viva o circo!

Não se entende – segunda dose

Como é que os mais fabulosos e importantes irmãos na história do cinema desde os irmãos Lumiére, responsáveis por fascinantes obras como «Barton Fink» ou «Noite de Gangsters», conseguem fazer um filme como «Crueldade Intolerável»?! O humor continua presente, mas já sem sinais de inteligência ou vigor. E é uma pena ver tantos talentos desaproveitados, pois não são apenas os Coen que se afundam nesta ligeiríssima comédia. Catherina Zeta-Jones aparece aqui deslumbrante como nunca antes e Cary Grant marca presença como só George Clooney consegue. O título do filme será uma dedicatória aos fãs que vão ver o filme?! A dúvida fica no ar.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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