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Juncais luta pela sua escola primária

População e Junta de Freguesia ponderam contratar professor e vão impugnar o fecho na justiça

Uma professora apresentou-se ontem em Juncais, no concelho de Fornos de Algodres, para dar apoio aos seis alunos da escola local, cujo encerramento foi decretado pelo ministério da Educação. É o epílogo de um braço-de-ferro mantido pela população nos últimos dias para garantir a continuidade da sua primária. Entretanto, a Junta de Freguesia vai interpor uma acção judicial para impugnar a decisão de encerramento, tendo já sido notificado o director regional de Educação do Centro para confirmar o fecho. O caso foi ontem analisado na reunião do executivo fornense, de cuja posição final dependem novas formas de protesto em Juncais, que tem 310 habitantes.

Contudo, as esperanças são poucas. «Na reunião de terça-feira com o presidente da Câmara ouvimos o que já sabíamos, que a escola está fechada por ter menos de 10 alunos. Mas há outras no distrito da Guarda em condições semelhantes ou com menos alunos que Juncais e que continuam abertas neste ano lectivo», aponta Manuel José Paraíso. Por isso, o presidente da Junta considera haver motivos mais que suficientes para reivindicar «legitimamente» a continuidade da EB1, falando mesmo numa «dualidade injustificada de critérios, profundamente discriminatória». Como forma de protesto, na passada sexta-feira, os alunos foram acorrentados às secretárias com pipocas, enquanto cerca de 20 encarregados de educação marcaram presença nesta abertura simbólica do ano lectivo numa escola oficialmente fechada. Desde então que os miúdos têm ido normalmente para a primária onde, em vez das aulas, ocupam o tempo a jogar no computador e a brincar. Mas isso pode acabar. «A professora ofereceu-se para ajudar e nós aceitámos de bom grado», indica Manuel José Paraíso, sublinhando que esta colaboração «é transitória e deverá polongar-se até ao final da semana».

Mas pais e Junta não descartam a possibilidade de contratar um docente a tempo inteiro. «A medida não deve ser legal, mas é viável e todos concordamos com ela», disse Álvaro Jorge, pai de uma menina de 7 anos que está na iminência de ir estudar para a sede de concelho. Por outro lado, Manuel José Paraíso admite haver um argumento de peso para avançar para tribunal: «Na fase das matrículas nunca foi dito aos pais que estavam a inscrever os filhos noutra escola, pelo que as nossas advogadas alegam que os primeiros interessados não foram efectivamente informados do fecho em Juncais. Antes pelo contrário, foram apanhados de surpresa», garante. O autarca considera ser uma «aberração» encerrar uma escola com «óptimas condições, um ringue novo e situada junto ao centro de dia onde as crianças almoçavam diariamente». E dá conta dos receios dos pais, que não querem que os filhos vão estudar para fora, «nem que sejam transportados nos autocarros de sempre, sem qualquer equipamento de segurança. Disseram-nos que haveria lugares específicos para os alunos de Juncais, Vila Ruiva e Vila Soeiro e, eventualmente, um vigilante. Mas nada em concreto», lamenta. O município de Fornos de Algodres tem projectado para este mandato a construção de um centro escolar na vila. Manuel José Paraíso desconfia que esse empreendimento foi a «”moeda de troca”» para a Câmara concordar com o fecho de algumas escolas no concelho. «Foi apenas um acordo de cavalheiros, já que nada ficou garantido, mas a autarquia acreditou e encerrou as escolas», lamenta.

Luis Martins

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