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Julgamento inédito começa hoje em Trancoso

É a primeira vez que o encontro anual do Tribunal Europeu do Ambiente se realiza em Portugal

Porque é que ainda fazemos guerras? Ou alimentamos preconceitos e racismo? Qual é o papel da arte, da ciência e da cultura? Porque é que ainda há pobreza no nosso planeta e qual o impacto sobre o ambiente? Estas são algumas das questões que serão “julgadas” no primeiro encontro em Portugal do Tribunal Europeu do Ambiente, que começa hoje em Trancoso. Nesta “audiência” não há juízes, advogados, arguidos, nem sentenças. Trata-se apenas de uma tribuna aberta, livre e de debate à volta dos fundamentos ambientais.

Os oradores vêm dos quatro cantos do mundo, como o antropólogo Arjun Appadurai (Índia), o cientista Dan Shechtman (Israel), o jurista Durval Noronha (Brasil), a artista Josephine Coy (Inglaterra) e o filósofo Fernando Leal Audirac (México), entre muitos outros. A iniciativa é organizada pela Fundação para as Artes, Ciências e Tecnologias, com o apoio da autarquia local, e decorre no auditório Jacinto Ramos até sábado. O Tribunal nasceu no início dos anos 90 em Bruxelas, com o objectivo de se tornar um órgão vinculativo das Nações Unidas, mas o conceito foi reformulado mais tarde, recorda Emanuel Dimas Pimenta, actual director do Tribunal, arquitecto e músico. Passou depois a ter sede em Londres e foi orientado para a promoção da livre troca de informação, tomando o ambiente como uma questão antropológica. Entretanto, tornou-se numa «tribuna aberta e livre, onde se discutem os fundamentos ambientais», que se desloca pela primeira vez a Portugal. Segundo aquele responsável, o encontro terá um forte carácter transdisciplinar, cruzando campos como a química, a antropologia, o direito, a arte, a arquitectura, o urbanismo, a filosofia, etc.

«Cada pensador vai falar das suas experiências. Apesar da sua designação, este fórum não está virado objectivamente para a Terra, a Água ou o Ar, serve antes para responder a determinadas questões», adianta Emanuel Dimas Pimenta. O Tribunal Europeu do Ambiente lida com essas questões enquanto parte da forma de pensar, como reflexo directo das nossas estratégias de pensamento. Para o seu director, a reunião de Trancoso vai ser «um pequeno evento com grandes personagens». Quanto ao número de participantes esperados, «depende muito das condições climatéricas», indica, despreocupado, porque o mais importante «é que as próximas edições se realizem em Trancoso», espera. O tema deste ano são “As origens do futuro” e junta 10 personalidades internacionais e nacionais. Os primeiros dois dias serão caracterizados por cinco conferências, duas pela manhã e três à tarde. No último haverá três mesas redondas, coordenadas por Emanuel Dimas Pimenta e António Cerveira Pinto, onde serão discutidos os temas mais relevantes do evento.

Em busca das “Origens do Futuro”

Hoje, o filósofo de Arte, René Berger, presidente honorário do Tribunal Europeu do Ambiente, participará em directo de Lausanne (Suíça), pelas 9h30. Seguindo-se à apresentação por Emanuel Pimenta e uma conferência pelo advogado Durval de Noronha, árbitro da Organização Mundial de Comércio, às 11 horas.

À tarde intervêm o físico Dan Schtchman, autor da descoberta de um novo estado de matéria, e David Wilk, que vai abordar o futuro do papel electrónico. Depois será lançada a revista “TechnoEtic Arts”, dirigida por Roy Ascott, sobre o último Encontro de Arte e Ciência, realizado em Maio passado. Amanhã, após as conferências de Ronaldo Farias Castiglioni, Fernando Leal Audirac, Emanuel Pimenta e Arjun Appadurai, será apresentado o mais recente livro do economista Lester Brown, “Plano B 2.0”, na sua primeira tradução em português. A obra tem distribuição gratuita. O autor também participará a partir de Washington (EUA), com uma conferência transmitida em tempo real via Internet. No sábado realizam-se várias mesas redondas e serão exibidos alguns dos melhores filmes do último Festival de Vídeo Arte de Locarno (Suíça). Simultaneamente, realizar-se-ão dois seminários paralelos – um sobre as emissões e sequestro de carbono, assim como as consequências do Tratado de Quioto, e outro a propósito das implicações financeiras mundiais da globalização. No domingo, à noite, será ainda apresentado o filme “Uma verdade inconveniente” de Al Gore.

Patrícia Correia

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