Arquivo

Jovens investigadores tentam que castanha beirã volte a ser rainha

Cinco estudantes da Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda, desenvolveram desde fevereiro um estudo sobre a castanha beirã

A curiosidade e a inovação aliadas à vontade de reintroduzir a castanha beirã na dieta alimentar levaram a que um grupo de cinco alunos da Escola Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda, desenvolvesse um estudo experimental em torno deste fruto.

O pontapé de partida deste projeto, onde a castanha é rainha, deveu-se ao incentivo da direção da escola no âmbito da 14ª edição do Prémio “Ciência na Escola”, promovida pela Fundação Ilídio Pinho. Com idades compreendidas entre os 16 e 17 anos, os alunos de 11º ano Marco Pina de Sá, Joana Ferreira, Maria Tapadas, Carolina Ferreira e Tatiana Fonseca, sob direção das professoras Alina Louro e Alcina Barata, estudaram três tipos de castanha abundante na região da Guarda: a judia, a longal e a martaínha.

Todas as caraterísticas de cada variedade de castanha foram devidamente analisadas, a partir de meados de fevereiro, com o objetivo de fazer uma ponte entre a investigação e aquilo que se pode fazer com o fruto, do ponto de vista científico, para que depois possa ser comercializado de forma otimizada. «Queríamos qualquer coisa nova. O nosso objetivo foi tentar puxar o fruto para a região e afirmá-lo como produto endógeno», frisa a professora Alina Louro. Numa altura em que se ouve falar tanto na cereja do Fundão ou na alheira de Mirandela, a coordenadora do projeto sublinhou ainda que «a castanha é um fruto agradável e pode ser usado na alimentação de muitas formas».

Prolongar a utilização da castanha sem a congelar, através de técnicas diferenciadas, foi um dos pontos trabalhados pelos jovens investigadores. Um dos processos a que recorreram foi a conservação em areia. «Os nossos antepassados conservavam as castanhas na areia e durante algum tempo era possível. Na verdade, essas areias oriundas aqui da região eram radioativas», explica a professora Alina Louro. Para além dessa técnica, os alunos submeteram algumas castanhas a radiações raio-x e, segundo a coordenadora do projeto, «estão iguais à altura em que foram colocadas naquele meio». Também a conservação ao ar livre – cujos resultados já eram expectáveis – foi umas das técnicas usadas, tendo-se assistido à deterioração das castanhas.

Este trabalho experimental fez com que os jovens investigadores se tornassem autores de um feito pioneiro: determinaram a capacidade térmica mássica da castanha. «Tivemos que arranjar a melhor técnica para a determinar porque não é muito fácil e como nunca tinha sido determinada tivemos que inventar um bocadinho», relembra o aluno Marco Pina de Sá, que admite que «gostava de seguir a química». O caminho da descoberta ficou marcado por experiências boas e outras mais caricatas. Os estudantes lembram que a primeira vez que assaram castanhas no micro-ondas fizeram o alarme da escola disparar. Embora esses percalços, quando questionado sobre a bagagem que esta experiência lhe deu, Marco Pina de Sá salienta «sabíamos o básico e assim conseguimos aprofundar um pouco melhor os nossos conhecimentos», acrescentando que, caso consiga entrar na universidade, já vai «com umas luzes» e pode tentar «fazer como fizemos aqui». Também Joana Ferreira considera que este projeto lhes possibilitou adquirir «técnicas de investigação que nos poderão ajudar no futuro».

Embora o “núcleo duro” de investigação seja constituído apenas por estes cinco alunos, todo o agrupamento esteve envolvido no projeto. Se a parte mais técnica, da investigação pura e dura, ficou a cargo destes jovens, todos os outros elementos essenciais ao projeto foram devidamente pensados e criados por estudantes de outros cursos. Desde os alunos do curso de geometria descritiva, que criaram o logotipo, aos alunos de educação visual, que fizeram as caixas utilizadas para os chás de castanha, a envolvência no projeto atingiu uma dimensão inesperada.

Neste momento, para além das bolachas e dos chás que os alunos formaram a partir da castanha e dos seus suplementos, uma das ideias que ainda só está no papel é a criação de um iogurte de castanha. A embalagem já foi concebida, mas falta o “recheio”. De acordo com a professora Alina Louro, a castanha tem «uma série de propriedades benéficas para o consumidor» e, como tal, haverá uma tentativa de contacto com uma empresa local para que este produto inovador possa, quiçá, vir a fazer parte da dieta alimentar dos portugueses.

Por agora, os jovens investigadores estão focados na mostra nacional da 14ª edição do Prémio “Ciência na Escola”, que decorre hoje e amanhã em Coimbra, onde terão possibilidade de dar a conhecer os trabalhos que desenvolveram. «Vamos para a mostra com o objetivo de tentar representar a região, o agrupamento, a cidade, mas também vamos para nos divertir, conhecer pessoas, trabalhar ideias e tirar o máximo que pudermos desta experiência», salientou a professora Alina Louro. Note-se que, de um universo de mais de 1800 projetos a nível nacional, o da Afonso de Albuquerque foi um dos 100 selecionados pelo júri nacional, tendo recebido um prémio monetário de 500 euros na primeira fase.

Sara Guterres

Sobre o autor

Leave a Reply