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Jovens de Trancoso obrigados a procurar emprego fora do concelho

Para os recém-licenciados ouvidos por O INTERIOR, a falta de reconhecimento é uma das causas que os leva a abandonar a terra natal

Em Trancoso, a ausência de empregabilidade é algo negativo para os recém-licenciados. A falta de reconhecimento é considerada uma das causas que os leva a abandonar o concelho. De acordo com alguns jovens ouvidos por O INTERIOR, a sua fixação na terra natal é muito importante para o desenvolvimento da região.

Emanuel Leitão tem 23 anos, é licenciado em Enfermagem e as perspetivas profissionais que pode encontrar em Trancoso «são muito poucas ou nenhumas, uma vez que as propostas de trabalho que existem são escassas e a nível remuneratório não atingem o mínimo estabelecido». Patrícia Fernandes, de 25 anos, é formada em 1º e 2º Ciclo de Ensino Básico e, apesar de querer estabelecer-se no concelho, também a sua área tem pouca empregabilidade. «As crianças são cada vez menos, pois a maior parte dos jovens são obrigados a procurar emprego fora de Trancoso e acabam por constituir família noutras regiões e até fora do país», constata. Na opinião de Andreia Garrido, de 24 anos, licenciada em Design de Comunicação, «são cada vez mais as pessoas desinteressadas em promover a sua região. É mais convidativo agarrar oportunidades fora porque dependem de menos esforço, apesar da competitividade ser maior nesses locais por haver mais oferta». A jovem acrescenta que para um licenciado é difícil conseguir manter expetativas profissionais na terra: «No meu caso penso que isso acontece devido a muita gente não dar valor às artes no geral e acomodar-se com o que já existe».

Por sua vez, Emanuel Leitão, embora tenha possibilidade de exercer a sua profissão em Trancoso, revela que há falta de reconhecimento a nível monetário. «Ainda que exista alguma desertificação, há muitos idosos no concelho, o que “abre portas” para desempenhar a minha função mais ligada com a área de Gerontologia. No entanto, é difícil encontrar trabalho num lar que me remunere devidamente», adianta. Além disso, Andreia Garrido sublinha que «vivemos num país onde cada vez mais se consomem aparências em vez de princípios e isso, sem dúvida, se evidência mais nos meios pequenos, onde toda a gente se conhece e opina sobre a vida alheia. Pode parecer algo fora do contexto mas é um dos fatores que dificulta o crescimento destas localidades».

Apesar de existir interesse por parte destes jovens em continuar na sua terra e promoverem a região, o despovoamento gera a falta de oportunidades, o que os obriga a mudarem-se para outros locais.

Emanuel Leitão afirma que «era gratificante voltar à minha terra natal e poder praticar em pleno a licenciatura que tirei, até porque as despesas seriam menores e não existe nada melhor do que estar perto de casa». Mas para tal acontecer é necessário haver «oportunidades de emprego e negócios, como fábricas, atividades que cativem os jovens a permanecerem na terra, aulas de línguas, mais formações de acordo com as necessidades da população, tecnologia e internet a preços acessíveis», sugere Patrícia Fernandes. Também Andreia Garrido constata que em Trancoso falta «indústria e dinamismo», pelo que «a comunidade jovem devia impor-se e unir-se para que, de um modo geral, não fosse necessário sair da terra para se poder exercer a profissão». No entanto, a realidade do desemprego está a afetar em grande parte os jovens do interior. Com a sua saída, o despovoamento desta região é cada vez mais acentuado e isso provoca consequentemente um enfraquecimento das oportunidades.

«As propostas de trabalho que existem são escassas e a nível remuneratório não atingem o mínimo estabelecido», diz Emanuel Leitão

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