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Jovem da Guarda recolhe cães abandonados

Verónica Martins diz que animais são mal tratados no canil municipal, mas vereadora Lurdes Saavedra desmente

Verónica Martins garante já ter recolhido e tratado centenas de cães vadios nas ruas da Guarda. Tudo porque alega haver animais mal tratados no canil municipal, afirmando mesmo que alguns chegam a morrer à fome por não lhes ser aplicada uma injecção letal dentro do prazo estabelecido. Confrontada com estas queixas, Lurdes Saavedra, vereadora da Câmara da Guarda, garante que «é tudo mentira».

A jovem de 23 anos, a quem costumam chamar a «”mãe” dos cães da Guarda», lembra-se de recolher e tratar animais vadios, entre cães e gatos, pelas ruas da cidade «há 14 ou 15 anos». E isto sem receber nenhuma ajuda: «Para além da alimentação, também lhes dou vacinas e pago tudo do meu bolso sem quaisquer ajudas», assegura, contando que alguns desses animais ficam com ela e entrega outros a pessoas conhecidas, mas sempre na condição de «os tratarem bem», frisa. Verónica Martins, que visita regularmente o canil municipal da Guarda, queixa-se de que ali dão banhos diários de mangueira aos cães e que os deixam «dormir nos azulejos molhados», acusa. Por outro lado, garante, indignada, que são dadas rações «muito grandes» aos animais, o que faz com que os cães com seis meses «mal consigam comer, quanto mais as crias com um mês». A jovem estudante dá como exemplo o caso da Minie, uma cadela com cerca de quatro meses que adoptou recentemente depois de a ter visto no canil e que, no espaço de 15 dias, engordou cinco quilos. «Até o veterinário ralhou comigo, porque lhe podia ter dado uma congestão, mas ela tinha tanta fome…», diz.

Segundo um relatório elaborado pelo veterinário que viu a cadela, a que “O Interior” teve acesso, o animal apresentava um «estado geral mau, uma magreza extrema no limiar da caquexia (coluna vertebral e costelas visíveis e palpáveis), uma desidratação em fase de instalação, para além de um estado de nervosismo intenso e medo do contacto humano». De resto, a jovem diz mesmo que no canil dos Galegos «há cães que são só pele e osso. Estão completamente desidratados e desnutridos. Seria melhor matá-los do que deixá-los a perecer naquele estado», denuncia. De acordo com a legislação em vigor, os cães feridos e portadores de doenças graves têm que permanecer oito dias no canil. Findo este prazo, caso não sejam reclamados pelos donos, devem ser abatidos com uma injecção letal para acabar com o seu sofrimento. «O que não acontece na Guarda. Se calhar para pouparem o dinheiro da injecção», critica. As suas queixas não se ficam por aqui. A situação de um cão atropelado e que estava em «péssimas condições» é outro caso a apontar. «Não se conseguia mexer, mas ali ficou e morreu à fome», garante a jovem, que lembra que «há uma lei» que obriga a tratarem dos animais, «mas eles deixam-nos ficar na jaula e, ou morrem por falta de alimento, ou por excesso de hemorragias». Por isso, considera que «uma morte digna não faz mal a ninguém» se não tratam convenientemente dos animais. Verónica Martins diz que o que se passa no canil da Guarda é «lamentável em todos os aspectos», até porque «isto não pode ser visto como uma obrigação, tem que haver gosto em tratar dos animais». A jovem reconhece que as infraestruturas do canil são boas, o problema é que o alimento «é pouco», para além de não deixarem os animais fazerem exercício. «Os funcionários dizem que os cães fazem mal e que mordem, mas isso é mentira», assegura. Aliás, afirma mesmo que os funcionários do canil «são homens já com uma certa idade e não têm sensibilidade nenhuma para tratar dos animais».

Funcionários do canil «têm uma relação muito forte» com os cães

Confrontada com estas queixas, Lurdes Saavedra, vereadora da Câmara da Guarda, assegura que é «mentira» que os animais sejam mal tratados no canil municipal. «Temos um médico veterinário que está afecto ao canil, que vai lá quase todos os dias, e não me passa pela cabeça que deixe maltratar os animais», realça. A vereadora garante que os animais estão medicados e que «é mentira» haver cães a morrer à fome, assegurando que os dois funcionários do canil têm «uma relação muito forte» com os bichos. Em relação ao facto dos oito dias para abate não serem cumpridos, Lurdes Saavedra reconhece que «de vez em quando, os animais estão lá mais tempo», algo que é justificado com uma razão sentimental: «É por pena. Esperamos sempre até à última tentativa que os donos apareçam», reforça.

Ricardo Cordeiro

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