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Jornada histórica pelas ruas de Trancoso

Festa da História surpreendeu milhares de visitantes na vila medieval do distrito da Guarda

Trancoso vestiu-se de roupas “históricas” durante o último fim-de-semana. Encheu-se de tendas e botequins, animadas por músicas antigas e falas de outros tempos, parou para ver passar o cortejo das bodas de D. Dinis com D. Isabel de Aragão e transformou-se por dois dias numa Festa da História. Inúmeros figurantes, trajados à época, alguns actores e variadas artes e ofícios tornaram ainda mais realista esta viagem ao passado que atraiu largos milhares de visitantes à vila medieval, classificada há pouco mais de um como Aldeia Histórica. Um encontro que veio para ficar e está a transformar-se em mais um motivo de visita a Trancoso.

A viagem começou para lá das famosas Portas d’El Rei, uma imponente fronteira entre o passado e o presente transposta ao som da gaita-de-foles. Uma música alegre e festiva deu as boas-vindas aos visitantes, rapidamente rodeados pelo fervilhar comercial do burgo. Ourives, vendedores de licores, queijeiros e padeiros chamam a atenção dos transeuntes prometendo bons negócios e nenhuns arrependimentos, enquanto na taberna se refrescam as gargantas em potes de barro com medidas proporcionais à sede do freguês. De regresso à Rua da Corredoura, abrem-se alas para dar passagem ao séquito de D. Isabel de Aragão, onde menestréis e saltimbancos partilham as atenções do povo com soldados e cavaleiros com cara de poucos amigos. A meio, surgem os representantes da nobreza, entre os quais se destacam figuras bem conhecidas do nosso tempo, como António Oliveira, João Carvalho e Júlio Sarmento, o burgomestre. A comitiva segue o seu caminho, dando lugar aos negócios mas também às músicas e danças estranhas do acampamento mourisco. Naquele pequeno recanto árabe, tamanqueiros, cordoeiros e latoeiros regateiam os seus produtos por um bom preço e convidam para um chá verde.

Mas adiante que se faz tarde e o bulício que vem do Largo D. Dinis é convidativo. Na enorme praça, almocreves, oleiros, escrivães, sapateiros, albardeiros, latoeiros, cordoeiros, padeiros, ourives, curandeiros, taberneiros e vendedores de licores, entre os quais um frade com receitas secretas para todos os males – inclusive uma maliciosa beberagem com o nome de “Levanta o Pau” – procuram compradores, mas também têm tempo para dois dedos de conversa porque aqui a pressa é o maior inimigo do comércio. Por aqui não há bom negócio que se preze que não fique selado com um fortíssimo licor designado pelos locais de “Sangue dos Judeus”, uma beberagem que possui ainda o dom de desfiar as línguas e enrubescer as faces dos seus apreciadores. Mais à frente, vive-se o entusiasmo dos jogos e dos malabarismos, mas também a intensidade das pelejas e dos torneios de armas. Mas a reconstituição do dia-a-dia de uma feira medieval não ficaria completo sem o visitante saciar a fome com as iguarias e os doces tradicionais. Recuperado o ânimo, é tempo de apreciar a falcoaria e os seus belos exemplares de aves de rapina, antes de rumar à ceia onde um espectáculo de música medieval dá por terminada esta jornada proporcionada pela autarquia local, em parceira com a empresa municipal Trancoso Eventos, a Escola Profissional, a associação de desenvolvimento Raia Histórica, o grupo Viv’Arte e as colectividades do concelho.

Luis Martins

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