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Jorge Noutel pede demissão de Valente

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal acusa presidente da Câmara da Guarda de ter mentido no processo do Guarda Mall

A última sessão da Assembleia Municipal (AM) da Guarda ficou marcada por uma intervenção de Jorge Noutel em que o deputado do Bloco de Esquerda pediu a demissão do presidente da Câmara. Em causa o processo da construção do centro comercial Guarda Mall, posteriormente designado de Guarda Shopping Center”, que culminou com o chumbo do Tribunal de Contas. Na reunião realizada na última sexta-feira, foram aprovados por maioria a proposta de regulamento de taxas e outras receitas do município, bem como da prestação de contas do município e dos serviços municipalizados do ano de 2009.

Durante a sua intervenção, o deputado do BE sublinhou a «forma pouco digna» como o «caso» do chumbo do TC «foi tratado pelo presidente da Câmara». Assim, defendeu que «sabendo do chumbo desde Maio de 2009, importava que o presidente da Câmara, numa atitude séria, transparente e condigna tivesse dito toda a verdade aos munícipes da Guarda. Ou será que o conselho de uma administração é mais importante que a população da Guarda?. A ser assim, muito mal vai a coisa pública e a política», frisou. Continuando num tom enérgico, sustentou que «há o dever de um eleito responder e informar quem o elegeu» e que «falar verdade é e deve ser apanágio de um político». De seguida, atirou com duas questões: «Que legitimidade tem um presidente que guardou para si uma decisão do TC sobre um assunto tão grave e sério? Que autoridade tem um presidente que faz da mentira e da falta de transparência e rigor a forma de estar na vida política?». O eleito bloquista relembrou ainda que «alguém sugeriu que o presidente da Câmara deve um pedido de desculpas à população da Guarda», mas ressalvou que «isto não é um “reality show” – tipo Volta que estás perdoado». De resto, «o caso é real» e «bem mais grave do que se possa imaginar», daí que «a serem coerentes só vos resta uma atitude: a demissão», exigiu, numa afirmação que provocou gargalhadas à bancada socialista. Noutel reforçou que «em qualquer país onde a democracia se exerce com seriedade e a participação cívica dos cidadãos é exercida com responsabilidade, o caminho tem um sentido único: a demissão».

Sem nunca responder de forma directa à “sugestão” do deputado do BE, o presidente da Câmara da Guarda assegurou que «nunca» mentiu, nem escondeu «nada». «Não levei foi, apesar de já ser pública, a decisão do Tribunal de Contas à reunião do executivo por uma razão muito simples. Os promotores não são a Câmara, mas quem põe o dinheiro e antes de ir ao executivo tem que se ouvir os promotores». Do mesmo modo, perguntou «como é que se podia mentir se todos estes documentos são públicos. Acha-me ingénuo? Quem não deve, não teme, não menti», repetiu. Joaquim Valente salientou que respeitou «um conjunto de procedimentos» e que a autarquia irá avançar para o concurso público internacional «para que mais e melhores ofertas possam aparecer», embora admita «algum receio de que aquilo que estava contratualizado e que o TC rejeitou poderia ter sido a melhor proposta».

Entre várias críticas feitas pelos deputados da oposição, Tânia Cameira, presidente da Junta de Freguesia do Marmeleiro, ironizou que o autarca guardense «deve andar muito ocupado e como tal já não tenha tempo nem disponibilidade para atender as juntas de freguesia». Pedindo solução para o «avançado estado de degradação da rede viária que serve a freguesia», a eleita pelo PSD reforçou que «com todo o devido respeito pelo vice-presidente, que já se percebeu que tem a seu cargo a missão de agora ser o indicado para as quinta-feiras estar no atendimento às juntas de freguesia, o presidente da Câmara não pode descurar as questões que são essenciais e estruturais nas nossas freguesias».

Já o líder da bancada socialista, apresentou uma recomendação da atribuição do nome de Almeida Santos, antigo presidente da Assembleia da República, à sala da Assembleia Municipal, tendo ainda proposto uma galeria que possa receber fotos de antigos presidentes da AM e da autarquia.

«Quem não estiver determinado, o melhor é sair da estrutura accionista» da PLIE

À margem da Assembleia Municipal, Joaquim Valente falou aos jornalistas sobre a reunião do Conselho de Administração da PLIE – Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial, realizada no dia anterior. O autarca explicou que o CA reuniu «no sentido de elaborar uma proposta para ir à Assembleia Geral por forma a que se crie um corpo de accionistas activo, determinado e com toda a vontade de levar este projecto para a frente». Deste modo, foi feita uma proposta para se fazer um aumento do capital social da sociedade «de forma a conseguir os objectivos da empresa, mas ficámos satisfeitos porque há empresários que, desde o princípio, têm estado determinados, mantêm a sua determinação e quem não estiver determinado, o melhor é sair da estrutura accionista», disparou. Recorde-se que esta é a segunda tentativa que o CA faz no sentido de proceder ao aumento do capital social, mas o edil guardense mostra-se confiante: «Na primeira reunião que se fez nesse sentido houve accionistas que não subscreveram o capital e a maior subscrição era pública e nesse sentido a empresa deixava de ser SA para ser uma empresa municipal. Nós não queremos isso. Queremos estar lá, mas que sejam os privados a gerir, a ter a maioria do capital e está em vias de se encontrar uma solução».

Ricardo Cordeiro «Que autoridade tem um presidente que faz da mentira a forma de estar na vida política?», questionou Noutel

Comentários dos nossos leitores
Samuel Antic santicaciques@gmail.com
Comentário:
A gargalhada que se ouviu quando J. Noutel referiu a demissão como o caminho a seguir por quem mente, da forma como Valente (só de nome)o fez, não é apenas dirigida ao visado no momento, mas a todos os munícipes, sendo evidente o desprezo com que são diariamente tratados, por quem se arvora em “donos” da Câmara, não entendendo nem respeitando o significado da eleição.
 
Manuel Santinho marsantinho@sapo.pt
Comentário:
Também eu não posso deixar de soltar uma sonora gargalhada, ao ler que o sr Valente diz que não deve nem teme. O senhor DEVE e muito. Se o senhor não devesse seria o primeiro a querer justificar a razão por que procedeu à anulação de um concurso para a Câmara e o afastamento da empresa que o tinha ganho. O senhor tem lá as cartas a solicitar o esclarecimento (ao que parece, guardadas a sete chaves, para que ninguém se inteire do seu conteúdo) e eu tenho as cópias com o carimbo de entrada que provam que o senhor as recebeu. Como diz que não teme, também me deixa mais à vontade para eu dar conhecimento público da situação…
 

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