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John B. Sanderson Haldane

Mitocôndrias e Quasares

Esta semana vamos continuar com a descoberta de cientistas menos conhecidos dos cidadãos. Vamos focar a nossa atenção em John B. Sanderson Haldane. Este cientista procurou a origem da vida na Terra, seguindo a ideia de que a vida não se produziu por geração espontânea.

Haldane nasceu em Inglaterra nos finais do século XIX, no seio de uma família abastada (era filho de John Scott Haldane, um nos melhores fisiólogos britânicos) e teve uma educação de acordo com o seu estatuto. Estudou em Eton e Oxford até obter o diploma em Biologia. Com o tempo, tornou-se um importante geneticista e um dos melhores fisiólogos. Prestou serviço na Primeira Guerra Mundial. Já licenciado, e estimulado por experiências com cobaias, foi influenciado pelas investigações do seu pai (que tinha estudado o papel do monóxido de carbono nas minas de carvão) e começou a interessar-se a sério pela respiração e pelo efeito do dióxido de carbono no sangue.

Com as suas experiências conseguiu provocar o aparecimento de ácido hidroclorídrico no sangue de uma cobaia e provou que estas reações seguiam as leis da termodinâmica, algo que teve oportunidade de comprovar mais tarde por meio de cálculos dos coeficientes das reações enzimáticas. Este foi o ponto de partida para mergulhar nos assuntos que ocupariam a sua vida: a genética e a seleção natural. O reconhecimento público chegou quando publicou obras de divulgação e quando vários dos seus artigos sobre os resultados das investigações saíram na “Daily Worker” entre 1940 e 1949.

Em 1919 e 1922, Haldane foi membro da Universidade de Oxford e depois transferiu-se para Cambridge, onde lecionou em 1932. Durante os nove anos que passou em Cambridge, Haldane trabalhou com enzimas e em genética, sobretudo, na vertente matemática desta especialidade. Haldane escreveu muitos ensaios e artigos, que foram compilados e publicados em 1927 num volume intitulado “Mundo Possíveis”. Desde 1932 começou a lecionar genética na Universidade de Londres, onde passou a maior parte da sua carreira académica.

Dedicou a vida à procura da origem da vida no planeta Terra. Em 1923 deu uma palestra em Cambridge prevenindo sobre o esgotamento do carvão para a produção de eletricidade na Grã-Bretanha e estava então preparado para dar a conhecer a sua hipótese sobre a origem da vida no planeta. Entre os seus contributos para este tema, Haldane erradicou do pensamento científico a ideia de vitalismo ao defender que a vida pode ter sido originada a partir da matéria inerte, mas que, após isso ter acontecido, a atmosfera primitiva foi alterada de tal forma que a situação não pôde ser repetida.

Para sustentar a sua hipótese utilizou a analogia dos bacteriófagos, vírus de bactéria, que estão a meio caminho entre o vivo e o inanimado. Estes seres são obrigatoriamente parasitas, ou seja, apenas podem realizar as fases essenciais do seu ciclo de vida, tais como a reprodução, na presença de outros seres vivos. Haldane propôs que os primeiros seres originados na Terra seriam semelhantes a estes vírus por necessitarem de outros componentes que estavam presentes no oceano, mas que em caso algum seriam capazes de obter por si próprios.

Neste contexto, Haldane introduziu a difundida metáfora do caldo primitivo, da qual Oparin já tinha falado, para fazer referência ao oceano terrestre que, nessa altura, se encontrava repleto de moléculas orgânicas de complexidade variada, formadas de modo natural a partir de energia física (raios ultravioleta e outros tipos de ondas) e química (interações entre moléculas entre outros).

Haldane morreu vítima de cancro aos 72 anos de idade, depois de ter conseguido o reconhecimento por parte da comunidade científica internacional.

A sua posição materialista influenciou as suas investigações científicas, ao ponto de ele próprio ter chegado a declarar: «O meu trabalho como cientista é ateu. Isto é, quando preparo uma experiência suponho que nenhum deus, anjo ou demónio vai interferir no seu curso, e esta suposição é justificada pelos êxitos que fui capaz de atingir na minha carreira profissional. Por conseguinte, seria intelectualmente desonesto se não fosse também ateu no que diz respeito aos restantes assuntos do mundo».

Por: António Costa

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