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Jerry Can

Observatório de Ornitorrincos

Hoje passa na SIC Radical mais um episódio da melhor série de humor feita nos EUA nos últimos 20 anos. Exagero? Pode ser. O mundo é feito das nossas subjectividades, também. Mas dificilmente encontramos outra série com as mesmas características de Seinfeld. Os quatro protagonistas não são apenas quatro casos perdidos, são quatro casos reais. Há um Jerry, um George, um Kramer e uma Elaine dentro de nós, embora esta última eu preferisse do lado de fora, mais exactamente ao lado.

Num livro muito curioso1, vários professores de Filosofia relacionam a série e as suas personagens com vários pensadores e correntes de pensamento da história da Humanidade. A filosofia sempre foi acusada, ou sempre se deixou acusar, de ser uma disciplina sobre nada – ou sobre tudo, o que daria em nada. Jerry Seinfeld, co-autor dos guiões, sempre deixou bem claro que este programa era exactamente isso – uma sitcom sobre tudo e nada.

No primeiro episódio, Seinfeld elabora sobre saídas à noite, lavandarias, sinais equívocos de amigas, encontros com o sexo oposto e a eterna incompreensão das mulheres que arrasta os homens para a lama ou para o colchão. No segundo, transmitido na terça-feira, o público conhece Elaine e Jerry conhece Vanessa sem saber o seu nome, o que o irá torturar o tempo todo. George finge ser um arquitecto, artimanha que irá repetir ao longo das dez séries que o programa durou. George é um desencantado com a vida, com a sua própria vida. E há Kramer, o desconfiado. Kierkegaardiano, diz um dos autores do livro referido. Jerry, pelo contrário, é socrático. Não se sente perdido, não desconfia do mundo, mas gosta de questionar as verdades absolutas dos companheiros.

Seinfeld, a série, é a vida de quatro amigos que podiam ser os nossos. É uma existência que pode ser a nossa, se excluirmos a localização (centro de New York) e alguns pormenores exclusivamente americanos, como uma das profissões que George ocupará, na gestão de um clube de basebol. De resto, ali estamos nós. Quem se consegue rir a sério das suas próprias vidas não resiste às gargalhadas com Seinfeld. Às terças e quintas, 23 horas na SIC Radical. A melhor série de comédia dos últimos 20 anos, digo eu.

PS: Logo a seguir, às 23:30, também na Radical, passa uma série que em tempos passou despercebida por cá, mas que é um mimo de técnica e originalidade. Chama-se Parker Lewis e merece ser vista do princípio ao fim. Para quem tinha dúvidas, o verdadeiro serviço público de televisão está nos canais de cabo da SIC. A nova temporada da Radical começa em pleno. Obrigado, Penim.

EU VI UM ORNITORRINCO

Programa informático de colocação de professores

Com existência virtual, este ornitorrinco causou perturbações na vida de milhares de pessoas. É nestas alturas que lamentamos o facto de a Matrix ser apenas uma invenção. Fosse real, e o computador nunca falhava desta maneira. Assim, resta fazer à mão ou tentar um remedeio com o Excel. Se for preciso, eu estou disponível para ajudar. Se não me engano, ainda andam por aí folhas de papel quadriculado do tempo em que a Matemática ocupava parte do meu tempo de estudo.

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1 IRWIN, William (ed.) [2000] Seinfeld and Philosophy – A Book about Everything and Nothing, Chicago: Open Court (disponível em qualquer livraria americana online)

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