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Jantar vínico luso-brasileiro na Guarda

Cerca de 60 participantes foram postos à prova com vinhos da Beira Interior e do Brasil

Na passada segunda-feira à noite, no restaurante Colmeia, na Guarda, os vinhos portugueses e brasileiros cruzaram-se num jantar vínico que permitiu saborear a gastronomia beirã e os néctares de moda nos dois lados do Atlântico. Este encontro de sabores pôs à mesa, pela primeira vez, vinhos portugueses e brasileiros.

Enquanto se degustavam outras iguarias propostas pelo restaurante, os convivas foram degustando vinhos da Beira Interior: Casas do Côro Family Harvested, Aforista branco, Convento d’Aguiar, Beyra, Alpedrinha Branco, 2.5 Branco, Entre Vinhas, e Quinta dos Currais Síria – brancos – e os tintos Varanda do Castelo (Pinhel), Quinta do Cardo Seleção Enólogo, Quinta dos Termos Reserva e Colheita do Sócio Garrafeira (Covilhã). Num jantar em que os vinhos foram servidos sem contacto visual do rótulo, qual prova “às cegas”, por entre “miminhos da Colmeia”, “Filete de Pescada frescos à Poveira com salada russa” e “Carne Maturada na grelha com salteado de legumes”, preparados por Max Gonçalves, provaram-se oito marcas de vinho e dois espumantes e interpretaram-se as diferenças de aroma e paladar de vinhos tão distintos como os da Beira Interior e os do Brasil. Os brancos Beyra Reserva Quartz, Casas Altas Riesling e o tinto Rio Sol Premium; seguiram-se o branco Quinta dos Currais Colheita Selecionada, o Quinta dos Termos Reserva do Patrão syrah tinto, e o Almeida Garret Chardonnay branco. Depois, e para festejar este encontro de sabores um espumante português, o Sou do Alto Bruto (Vila Franca das Naves) e um brasileiro, o Rio Sol Brut Rosé.

Entretanto, Rodolfo Queirós, da CVRBI, e João Santos, dos Vinhos Rio Sol, Brasil, caracterizaram os vinhos à prova, numa aula vínica num distinto ambiente gastronómico.

Rio Sol

Se em Portugal o vinho é um produto carregado de tradição, com produção vitivinícola desde o tempo dos romanos, espalhada por diferentes regiões, uma enorme variedade de castas e produtores de todas as dimensões, no Brasil a produção de vinho era irrelevante. Ou quase. Ao longo da história houve algumas iniciativas mas quase todas condenadas ao fracasso. Por isso, e por causa da carga fiscal imposta aos vinhos importados de fora do Mercosul, os vinhos chilenos e argentinos dominam o mercado. Um mercado muito apetecível e para onde cada vez mais produtores trabalham. Mas a empresa de vinhos Dão Sul foi mais longe. Adquiriu no início do séc. XXI dois mil hectares de terra no Vale de São Francisco, próximo da cidade de Petrolina (Estado de Pernambuco) e ali plantou 200 hectares de vinha. Hoje, com uma produção de mais de milhão e meio de garrafas por ano, a Vitivinícola de Santa Maria é um caso de sucesso, com vários vinhos medalhados e crescimento constante.

Um dos responsáveis pelo desenvolvimento do projeto é João Santos, um agrónomo natural da Guarda e que, em 2003, trocou a tranquilidade e o frio da fruta de “produção integrada” na Beira Interior pelo calor e o risco de “inventar” uma nova forma de fazer vinho, no Paralelo 8 do Equador. A fazenda passou a ser uma das maiores produtoras de uvas do Brasil, utilizadas para a fabricação de vinhos e espumantes premiados da marca Rio Sol. A localização da vinha permite a realização de ciclos contínuos de produção de uvas, diferente de qualquer outro “terroir”, onde só é possível fazer uma produção de uvas ao ano. Como explica João Santos, «fazemos colheita num lote e no lote ao lado podemos estar a podar», ou seja, na fazenda, há vindima todo o ano, ainda que em lotes diferentes. «E duas vezes ao ano, pois a videira tem um período de repouso mais curto» e por isso é possível fazer duas colheitas por ano.

Hoje, os vinhos Rio Sol já aparecem referenciados na imprensa especializada, pois, como referiu João Santos, «investimos em tecnologia e trouxemos novas variedades de castas para a região» para hoje fazerem os mais prestigiados vinhos do Brasil. Vinhos do novo mundo, com sotaque lusitano, mas com tons e aromas tropicais. Foi precisamente isso, essa diferença de aromas e paladares, que deliciou os cerca de 60 participantes neste primeiro jantar vínico luso-brasileiro na Guarda.

Luis Baptista-Martins Rodolfo Queirós (CVRBI) e João Santos (Vinhos Rio Sol) deram uma aula vínica

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