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Janela renascentista no centro histórico da Guarda em vias de classificação

Está por classificar desde 1978 porque a Câmara da Guarda nunca publicou o correspondente edital para audiência de interessados

A famosa janela manuelina da Rua Francisco dos Passos, no centro histórico da Guarda, está em vias de classificação como Monumento de Interesse Público (MIP). A intenção Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) foi publicada na semana passada em “Diário da República”, estando a decorrer até 30 de novembro a fase de consulta pública.

Curiosamente, a janela é Imóvel de Interesse Público desde 1978, por despacho de homologação do então secretário de Estado da Cultura. O problema é que a decisão não teve efeitos porque a Câmara da Guarda nunca chegou a publicar o correspondente edital para audiência de interessados, lê-se na fundamentação subscrita pela diretora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro. «Analisado o processo em questão, verifica-se que, muito embora este já tenha sido alvo de despacho de homologação, nunca foi realizada a devida audiência prévia dos interessados», refere o documento técnico, onde se propõe que, tal como no caso da Capela de Nossa Senhora da Vitória, em Viseu, «seja publicado o projeto de decisão da classificação como MIP, para efeitos de suprimento da não realização prévia da audiência dos interessados».

Esta janela renascentista sobressai na fachada de um austero edifício de granito na antiga Rua Direita, a uma dezena de metros da Igreja de São Vicente. Segundo algumas tradições, a casa teria albergado o Paço Episcopal medieval, onde o Bispo D. Álvaro de Chaves foi assassinado por um criado, que o terá lançado à rua de uma janela. Contudo, para o Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR) tudo não passará de estória. Lendas à parte, a janela quinhentista possui «uma elegante moldura em meia-cana, do peitoril ao lintel, onde forma um arco contracurvado e trilobado, rematado com cogulhos. Nas ombreiras, a moldura é delimitada por pequenos e delicados capiteis geometrizantes e assenta em bases semelhantes, já sobre o peitoril», descreve o IGESPAR. Entre a moldura e a caixilharia da janela, «o intradorso é decorado com motivos renascentistas de candelabros, putti, mascarões, aves e temas vegetalistas. O peitoril possui um medalhão central com efígie, sustentado por grifos alados».

Aquele instituto admite tratar-se «necessariamente de encomenda esclarecida, situada em prédio de uma das principais artérias da Guarda medieval, embora não obrigatoriamente ligada a um dignatário da Igreja». E adianta que a sua feitura terá sido paralela à construção da terceira Sé da Guarda [a atual], entre os finais do século XIV e o século XVI, «sendo que este o seu estaleiro, ativo durante tanto tempo, terá necessariamente influenciado as opções estéticas da cidade». De resto, o IGESPAR salienta que a dita janela «parece possuir semelhanças com a molduração do pórtico da Capela dos Pinas na Sé», o que a confirmar-se uma relação direta entre uma e outra obra, «ainda que apenas a nível do executante, poder-se-á situar a sua realização já no reinado de D. João III».

Luis Martins Elegância da janela sobressai na Rua Francisco dos Passos

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