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Jabulani

Mitocôndrias e Quasares

Com a época desportiva a iniciar-se em Portugal durante estas semanas, começa a nascer a “febre” clubista de alguns adeptos. O entusiasmo inicial da pré-época, quando chega aquele jogador que vai fazer a diferença, marcar 20 golos na Liga e decidir os jogos nos “derbys”, começa a esmorecer com o primeiro contra-tempo. Os adeptos e os comentadores transferem logo as suas frustrações para o treinador, para o jogador X, para o presidente do clube, para o director desportivo e inevitavelmente para os árbitros!

Mas hoje não vou concentrar a minha atenção nos “agentes desportivos”, mas sim, no objecto que muitas vezes cria estes diferentes estados de espírito ao longo da época futebolística – a bola – em especial, uma bola, a jabulani.

Desde que começou a ser utilizada nos estágios de preparação das selecções para o Mundial da África do Sul que se desenvolveu logo uma polémica em torno deste objecto.

A Jabulani foi criada por Andy Harland da Loughborough University Sport e distribuída pela Adidas. Com onze cores, a simbolizar os onze dialectos da África do Sul, a bola prometia ser a mais perfeita de toda a história deste desporto. Contudo, foi alvo de fortes críticas por diversos jogadores que afirmavam que esta descrevia diferentes trajectórias devido, principalmente, às diferenças nas texturas.

Para compreender a validade das críticas, os físicos australianos Derek Leinweber e Adrian Kiratidis, da Universidade de Adelaide, combinaram “o conhecimento da física aerodinâmica com décadas de estudos de bolas desportivas em túneis de vento para perceber e simular numericamente a aerodinâmica da Jabulani”.

Os primeiros resultados do estudo, que ainda estão por publicar, mostram que “a microtextura, as ranhuras e a proximidade da perfeição esférica da bola mantêm a pressão do ar próximo da bola onde a rotação da mesma pode ter um efeito significante”. Um outro trabalho desenvolvido por Oariana Geada assegura que devido às propriedades da força de arrasto, isto é, “a resistência que o ar oferece à passagem da bola e que depende da velocidade com que ela se move em relação ao ar”, uma bola rugosa oferece menos resistência ao ar do que uma lisa. Este facto é comprovado com uma bola de golf que ao apresentar uma superfície com pequenos orifícios permite que chega a distâncias mais longas.

Estes argumentos estão ser rejeitados por autor da bola, Andy Harland ao afirmar que o que condicionou o desempenho da bola foi a altitude a que determinados jogos no Mundial se disputaram. Nas cidades onde se realizaram diversos jogos, como por exemplo Joanesburgo ou Pretória que se encontram a 1700 e 1300 m acima do nível do mar e a densidade do ar diminui por se encontrar mais rarefeito. Isto conduz a uma diminuição da força de arrasto, uma vez que a altitude na África do Sul diminui a densidade do ar para 80 por cento a densidade ao nível do mar.

Apesar de todas estas condicionantes com a bola que vai ser utilizada na Liga Portuguesa de Futebol esperemos que não recaiam sobre ela desculpas para os insucessos, onde quase todos os jogos são realizados ao nível do mar, uma vez que o futebol são 11 contra 11, duas balizas e uma bola redonda…

Por: António Costa

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