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Já Somos Todos Espanhóis?

Quebra-Cabeças

1. No sábado passado, a RTP, televisão do Estado, dedicou a maior parte da sua emissão ao casamento de dois cidadãos espanhóis. A noiva está actualmente desempregada e o noivo não tem profissão conhecida. Não se lhes conhece obra de vulto nem se espera de qualquer deles que venha a resolver, ou a ajudar a resolver, algum dos muitos problemas com que os espanhóis se debatem. Quanto a nós, portugueses, a irrelevância prática da cerimónia é gritantemente notória. Mesmo assim, os nossos órgãos de comunicação social dedicaram ao caso o melhor dos seus espaços de fim-de-semana e os portugueses em geral, mesmo que sob o simples pretexto da mais banal coscuvilhice, foram um público avidamente, ridiculamente atento. Subserviência? Espírito de sopeira? Nostalgia do chicote? Vitória absoluta da cultura pimba, na sua vertente cor-de-rosa?

2. A nossa selecção de futebol prepara-se para atacar o Euro. Enquanto não chegam os jogos a sério, seleccionador e jogadores aproveitam para ganhar dinheiro em anúncios publicitários. Scolari tem talento e não tem perdido ocasiões para o demonstrar. Luís Figo, coitado, revela-se um péssimo actor e recita as suas deixas com uma dicção anémica e muito pouco convincente. Dá pena vê-lo a falar em “alma”, “garra”, “convicção” num tom de voz tão mortiço, tão sem alma, sem garra, sem convicção. Se é tão mau actor, de uma forma tão notória, ao menos que os árbitros do Europeu se convençam de que quando ele cai na grande área é a sério e é mesmo penalti: é que o homem nem quando lhe pagam e o ensaiam para o fazer sabe fingir.

3. Entretanto, numa galáxia distante das preocupações dos portugueses, o preço do petróleo continua a subir. Contrariamente ao que muitos poderão pensar, a OPEP é, desta vez, (quase) inocente. Os produtores de petróleo estão todos a colocá-lo no mercado a um ritmo sem precedentes e, à excepção da Arábia Saudita (e do Iraque, este por razões óbvias), encontram-se todos no limite da sua capacidade produtiva. A aproximação do verão e da “driving season” norte-americana, com directa influência no mercado de futuros, o aumento exponencial do consumo na China, sucessivas avarias em refinarias e diversos estrangulamentos na distribuição têm mantido o preço do barril acima dos 40 dólares e pressionam na direcção de maiores subidas. Mesmo que os sauditas aumentam substancialmente a produção, não há garantias de que os preços baixem a curto ou mesmo médio prazo. O terrorismo, por sua vez, tem agitado os mercados e é responsável directo por parte do preço de cada barril – entre 4 a 8 dólares. A chave, o local onde os ataques terroristas podem ser mais terrivelmente eficazes e mais destruidores para a economia mundial é, mais uma vez, a Arábia Saudita. Se a capacidade produtiva desta for afectada, deixa de existir qualquer tipo de almofada de segurança e os preços disparam. Parece que os mais prejudicados vão ser, mais ainda do que já são, os países com maior ineficiência energética (como Portugal) e os mais dependentes do petróleo por unidade de produto (como Portugal).

Por: António Ferreira

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