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Já que

CONJUNÇÕES

Já que os meus olhos voltaram a demorar-se no habitual, fecho-os durante o luar, sonhando com o que prevalece intacto noutras partes do mundo. Já que a rotina se apoderou de mim novamente, já que voltei a correr em círculos diários, tentarei render-me ao inevitável e fazer o meu percurso o melhor que conseguir… Já que o Inverno espera impaciente, assim como milhares de responsabilidades, abusarei de modas frescas e asneiras repentinas enquanto o calor se anexar ao desassossego.

Já que caminho por ruas desertas de originalidade e individualismo, baixo a cabeça, farta de normalidade em abundância, apesar de continuar a decorar 1001 faces diferentes, rostos expressivos e olhares preocupantes…

Já que a mudança se demora, tento acostumar-me a respostas diferentes para as mesmas expressões, tento habituar-me a outras formas de análise, a outras formas de distribuição de funções… Já que o dever me persegue, tento fazê-lo ganhar; porém, a arte que antes se expressava em misturas de tintas encolheu e hoje rebento em palavras e sentimentos impossíveis de conter.

Já que ontem muitos o tomaram como erro, já que ontem muitos incentivaram a que a repulsa se fizesse sentir no ar abafado, por baixo dos céus de trovoada, já que ontem tantos se agitaram por um ponto final, tentei filtrar informação como sempre fiz dando lugar a atitudes imprevistas de modo a adiar mais uma vez uma sentença… Mas já que a imaginação nunca se esgotou, apesar de toda a minha vontade se opor, tentei soltar a mão de um ouvido e habituar-me a palavras repreensivas, repreendendo mas não abafando a minha intuição…

Já que hoje os dias de receio e verdades distorcidas terminaram, sinto-me livre para correr contigo em mares de sol, frescura e sinceridade; sinto-me solta de padrões negros e imagino-me em vestidos cor-de-rosa rebolando em quadros campestres, abundantes em aromas frescos, coloridos e repleto de ervas altas, onde estarias petrificado, sorrindo…

Inês Corveira Rodrigues (12.º A)

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