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IURIS, uma empresa de sucesso na Guarda

Pequena fábrica de confecção de calças fundada por antigos trabalhadores da Gartêxtil está a “rebentar pelas costuras”

A IURIS é uma das poucas empresas de vestuário da Guarda que sobrevive aos tempos conturbados da economia portuguesa. A pequena firma, instalada na Guarda-Gare, nasceu de uma sociedade entre amigos quando se aperceberam do risco de perderem os seus postos de trabalho na Gartêxtil. Um passado comum a empresários e funcionárias desta fábrica de confecção de calças de homem que deitaram mãos à obra e são hoje um caso de sucesso no mercado internacional.

A pequena sociedade nasceu em 1997, «quando ainda estávamos todos a trabalhar na Gartêxtil», conta Mohamed Rekhaum, um dos sócios da IURIS. Altura em que a fábrica da Avenida de S. Miguel começou a denotar alguns problemas e que Mohamed Rekhaum e Justino Pessoa aproveitaram para lançar o seu próprio negócio em vez de correrem o risco de ficar desempregados. A Gartêxtil acabou por ser comprada em 1998 pela Carveste, mas está agora em processo de falência, um desfecho que está nas antípodas da situação actualmente vivida pelos fundadores da IURIS. «Tínhamos que tomar uma posição. Ou íamos à procura de trabalho fora da Guarda, pois há poucas empresas deste sector na região, ou então criávamos o nosso próprio negócio. Optámos por esta última solução e não estamos arrependidos», recorda o primeiro, então responsável comercial da Gartêxtil, enquanto Justino e Isabel Pessoa eram, respectivamente, director de produção e chefe de planeamento. «Ao pé da Gartêxtil esta é uma pequena alfaiataria», diz Justino Pessoa, mas vive um situação financeira que aquela «talvez nunca tenha vivido», garante.

De resto foi a IURIS que começou a absorver as primeiras funcionárias da Gartêxtil quando a empresa de confecção começou a mostrar sinais evidentes de crise. «Algumas vieram ter connosco e ainda cá estão a trabalhar», sublinha, acrescentando que das 24 funcionárias que trabalham actualmente na empresa quase todas passaram pela fábrica da Guarda-Gare, «uma boa escola de formação no sector de vestuário», garante Justino Pereira. A IURIS só fabrica calças de homem, sendo que cem por cento da sua produção é para exportação. O negócio começou por fazer-se com algumas fábricas em sub-contratação, mas depois os seus responsáveis arranjaram um agente em Inglaterra e alguns contactos na Suécia e conquistaram os mercados além fronteiras. Para Mohamed Rekhaum, o mercado nacional está fora de questão, pois «é muito pequeno e está saturado», mas também por causa, em parte, da mentalidade portuguesa «que só compra as marcas conhecidas». Mas a opção parece ter surtido efeito, já que a empresa está a “rebentar pelas costuras” e a necessitar de alargar as suas pequenas instalações. O problema é que o parque industrial da Guarda «não oferece as melhores condições», lamenta Justino Pessoa, para quem os preços ali praticados são «insustentáveis» para uma pequena empresa.

Num período em que a crise se instalou no sector têxtil, Mohamed Rekhaum explica que o segredo do sucesso está em «não fabricar para a loja, mas trabalhar bem, a baixo custo e sempre com lucro». E aponta como fundamental uma escolha selectiva dos clientes: «São preferíveis poucos, mas com garantias financeiras», garante. No caso da IURIS, trabalham desde o início para grandes marcas, nomeadamente inglesas, como a “Reiss”, “Barbour”, “Nigel Hall” e “Paul Smith”, mas também para a sueca “Bex of Scandinavia”. A última encomenda recebida na Guarda-Gare veio dos Estados Unidos e da Austrália, mas trata-se de «uma primeira experiência», diz, reticente, o empresário, que sublinha que o negócio está «a correr muito bem» e que há muitas encomendas. A empresa está integrada num mercado de média e alta qualidade, no qual «nunca tivemos atrasos nos pagamentos». Um dos únicos contratempos reside na interioridade, uma «desvantagem» que pode ter consequências nefastas a curto prazo, pois um dos seus clientes ingleses, que controlam a produção, tem ultimamente optado por concorrentes instalados no Norte do país «por causa da facilidade de acesso e a mobilidade», refere.

Patrícia Correia

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