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Isménia labareda

Bilhete Postal

A louca corrida de Isménia para o abismo deu-se quando o prédio pegou fogo e eram dezenas de andares por donde subia o fumo. O fogo estava lá em baixo e o calor crescia nos pés. Isménia subiu até onde o prédio deixava e atirou um filho do quinto andar que, por sorte, alguém segurou e assim salvou. A corrida que deu depois foi aliviada, que o sufoco era o filho que levara nos braços. O menino foi arrancado ao sono e apesar do fumo, do suor da mãe, do medo desta a jorrar da pele, dos cheiros dos tecidos e das borrachas queimadas, adormeceu de novo até que abriu os olhos, mas já descia da janela do quinto andar sem perceber o que se passava. Amorteceu o voo nos braços acolchoados de alguém e como nada doeu o bebé sorriu. A mãe viu que ele chegava são, estava longe da tragédia e subiu. Subiu intermináveis escadas até encontrar um terraço. Porque tudo queimava atirou-se de lá. O voo da Isménia em Londres fez-me imensa impressão. Ainda pensava no prédio e nos protestos dos desalojados quando veio o túnel de fogo que consumiu inúmeros de nós em Pedrogão e Castanheira de Pera. O demo mostrou-se na forma de inferno. O calor sinto-o eu, a falta de humidade também, a atmosfera demonstra que estamos perto de um Verão complexo. Lembro-me de outros em que a demagogia foi menos complacente que Marcelo Rebelo de Sousa e recordo vozes mais horroríficas que os fogos a queimar tudo e todos. Há muito que fazer para mudar estas coisas mas agora outros sermões virão. A ministra chorou e eu gostei de ver. O Presidente chorou e eu gostei de ver. Temos gente que chora e sente. Temos gente que após isto fará diferente!

Por: Diogo Cabrita

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