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sinais do tempo

As ansiadas férias de Verão chegaram e acabaram com a velocidade que as caracteriza. É ao sabor do calor e com o som repetido das ondas, que de forma bucólica aproveito para devorar parágrafos de livros que ao longo do ano ficaram esquecidos na mesa de cabeceira, mas é também a única altura do ano em que o tempo sobra para ler da primeira à última página os jornais diários.

A praia esteve perfeita e as noites convidavam às tertúlias acompanhadas por bebidas frescas. Os factos políticos estavam em “banho maria”, os políticos e os super dotados analistas andavam algures entre o Algarve, o Brasil e o Quénia. Afinal a quinzena que se adivinhava serena, foi activa e pródiga em notícias.

I de incêndios

Os Incêndios atacaram em força e fizeram calar António Costa que precipitadamente e por antecipação, afirmou que tinha ardido menos área que no ano passado. Como se enganou infelizmente, devemos ter tanta ou mais área queimada do que em 2003. Entretanto a RTP quer discutir a forma e o conteúdo das imagens a transmitir, com receio que as ditas sejam encaradas como estímulo ou fonte de inspiração para os pirómanos. Tenho que concordar com esta postura, porque talvez não seja necessário repetir imagens iguais (diferem apenas nos locais) todos os dias ao longo do verão, até porque se tornam monótonas e banais. O pior numa tragédia é a banalização. Talvez seja preferível questionar e debater a quente tudo o que continua a falhar (desde a prevenção até à acção) no que diz respeito aos incêndios. Ao contrário dos anos anteriores pouco se discutiu no calor do fogo. Pouco se ouviram os comandos a reclamar mais meios, pouco se ouviu dizer que a culpa era dos coordenadores, também não houve discussão entre as várias categorias de bombeiros. Gil Martins, tão badalado e afastado em 2003, lá está de novo, mas agora escudado pelo General Ferreira do Amaral, por isso não se tem dado por ele. Desta vez ficámos com a certeza de que nem o Ministro da Administração Interna, nem o do Ambiente e muito menos quem estava calmamente na savana a assistir ao Safari, tiveram qualquer responsabilidade. A culpa foi exclusivamente do fogo que continua indomável, dos governos anteriores e claro da seca.

Em relação aos meios aéreos, sem demagogia, poderíamos questionar se fica mais barato pagar a empresas privadas ou à Força Aérea Portuguesa. Ainda sem demagogia, outras questões se podem colocar como por exemplo em relação ao treino dos bombeiros no terreno, na Primavera, para estarem aptos no Verão. Será que não poderiam ir passeando os todo-o-terreno na floresta, numa atitude de reconhecimento dos acessos, mas também de prevenção e vigilância? É claro que, em algumas povoações, os Bombeiros são apenas voluntários (como na nossa Guarda), talvez esteja na altura de os profissionalizar.

As soluções foram de novo adiadas para Outubro, mas provavelmente vão ser adiadas pelo menos mais cinco ou seis anos, altura em que o problema ficará definitivamente e naturalmente resolvido, quando toda a floresta tiver ardido. No momento em que escrevo continua a arder floresta, mato e habitações, junto a cidades. Só na segunda-feira, finalmente, ouvi alguma discussão.

R de Reforma

Entretanto, o Dr. Mário Soares, que se tinha despedido dos portugueses há 10 anos, veio dar uma ajuda preciosa ao Primeiro-Ministro, assumindo que aos 80 anos está apto a ocupar o mais alto cargo da Nação. Deixou de ter interesse discutir Reformas aos 60 ou aos 65 anos, aceita-se perfeitamente que o limite de idade passe para os 85 ou talvez a eternidade. Resolve-lhe vários problemas de uma assentada Sr. Engº Sócrates! Soluções destas só podiam vir de uma pessoa que atravessou quase todo um século em combate. Não haverá mais ninguém dessa geração a candidatar-se? Está na altura de começarmos a fazer eleições em função do escalão etário. No outro dia ouvi dizer que o Eusébio se preparava para ocupar o lugar de ponta de lança na Selecção Nacional, a Rosa Mota estaria disponível de novo para os próximos campeonatos de atletismo e até o Carlos Lopes equaciona a hipótese de voltar a correr a maratona após uma dieta intensiva.

Afinal, vivemos num país de optimistas. “Tá-se bem!”

S de safari

O nosso PM após cinco meses de mandato foi gozar umas merecidas férias a África, observando animais no seu habitat natural, algo que, segundo o editorial de um semanário conceituado, “está ao alcance de qualquer português da classe média”. Só os portugueses mesquinhos se incomodam com as férias no Quénia. Mas o que me incomoda mesmo é que mais uma vez os nossos impostos sirvam para pagar a indemnização ao destituído Presidente do Conselho de Administração da CGD, cujos resultados de gestão foram francamente positivos, demitido por razões exclusivamente politicas e não técnicas. É para as indemnizações e para os subsídios de instalação (alguns de moralidade duvidosa) dos governantes e outros colaboradores que vai o nosso IRS.

IRS

Por falar no IRS, está na altura do acerto de contas, uns irão ser reembolsados outros irão pagar. O disparate é tanto que às vezes não apetece.

Por: João Santiago Correia

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