Os resultados económicos e o otimismo, também por causa da inesperada parceria Marcelo – Costa, permite ao primeiro-ministro passear-se por todos os assuntos como se nada, mas rigorosamente nada, contrariasse esse “irritante” otimismo. Até a entrevista (debate, sem moderador) a José Gomes Ferreira foi um passeio inócuo, desinteressante e sem ter de responder a nada de relevante sobre o país – ou se preferirem: Portugal está bem e recomenda-se, di-lo Costa, as instituições internacionais, os partidos de esquerda e o mundo que, de um momento para o outro, descobriu que o país existe. Os juros são mais baixos do que nunca, o petróleo é barato (e os combustíveis só são caros quando abastecemos por culpa da carga fiscal), os atentados na Turquia, Egipto e outros habituais destinos turísticos enchem Lisboa de estrangeiros e até a vitória do Euro do futebol e do Euro festival levam a que Portugal seja falado por todo o lado. De tal forma que quando falamos de aumento exponencial de exportações, estas são o resultado das receitas extraordinárias do turismo que cresce de forma constante.
Enquanto o Daesh atacar e Portugal passar ao lado dos conflitos vamos continuar a aumentar as exportações… de turismo. Cereja no topo do bolo: Portugal é o terceiro país mais seguro do mundo, a seguir à Islândia, que tem menos de meio milhão de habitantes – e são todos primos que vivem numa ilha onde só entra quem eles querem (e nem um impressionante vulcão assusta) – e da Nova Zelândia, que fica do outro lado do mundo e é um arquipélago com uma poderosa marinha mercante onde ninguém passa sem ser meticulosamente analisado. Ou seja, Portugal é, com fronteiras abertas, sem preconceitos e com vontade de receber todos os imigrantes, um rectângulo à beira-mar plantado e extraordinariamente seguro. Não há, mesmo, melhor país para viver (e disso eu já não tinha dúvidas há muitos anos). O único problema é a corrupção, o clientelismo, o amiguismo e os interesses que fazem do país um estado desigual onde quem tem padrinho tem sempre prorrogativas e direitos adquiridos.
Diogo Lacerda Machado, o amigo de António Costa que assessorou o governo ainda antes de ter feito qualquer contrato com o Estado, volta a estar no centro de uma polémica pouco recomendável. Agora, e como se fosse a coisa mais natural do mundo, Lacerda Machado vai para a administração da TAP. O próprio diz que é motivo de orgulho, mas de facto é o resultado de uma cultura política lamentável e imprópria de uma sociedade democrática, com regras, escrutínio e cultura de mérito.
Passos Coelho, presidente do PSD, tem razão ao dizer que é uma pouca-vergonha. Mas devia saber e dizer o mesmo a propósito das contratações que foram feitas no país enquanto geria o empobrecimento e o «ir além da Troika». Convém não esquecer que, só na Guarda, durante os últimos três anos, foram contratadas dezenas de pessoas para a ULS Guarda (Hospital) por serem filhos, afilhados ou enteados de alguém do PSD. E se a nova administração está agora a anular concursos e bolsas de recrutamento, deviam também anular as contratações anteriores em que pessoas sem mérito, sem qualificações e sem currículo ultrapassaram outros concorrentes para satisfação do chefe local do partido. Acresce que os salários dessa gente incapaz é imerecidamente pago por todos. Isto sim, é irritante.
Luis Baptista-Martins