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«Iremos fazer um trabalho de intervenção»

Cara a Cara – Entrevista

P-Há espaço para mais uma companhia profissional na região?

R-Claro que sim. Primeiro, porque considero que toda esta região é suficientemente grande, com quatro ou cinco cidades de expressão urbana, para ter apenas uma companhia profissional. Depois, pela própria natureza do nosso trabalho. É um teatro em urgência, que vai ao encontro das pessoas e que se desloca para sítios pouco acessíveis, para além de estarmos interessados na criação e na formação de públicos. Preocupamo-nos com o público infantil, idoso e com pessoas que não tenham tantas possibilidades de ver teatro.

P-O que é que distingue a ESTE das restantes companhias?

R-Não conheço todas as companhias, mas conheço bem como funciona o Teatro das Beiras e desmarcamo-nos desde já dessa gestão cultural. De uma forma geral, iremos fazer um trabalho de intervenção ao nível da parceria e de estar atento aos vários acontecimentos sociais e culturais das várias localidades, para além do espectáculo em si. O trabalho não se remete apenas ao espectáculo. Na nossa companhia, temos capacidade para nos desdobrarmos em programas pedagógicos, acções de formação e workshops. Não quero entrar em comparações com outras companhias, mas uma das nossas pretensões é que o teatro na região respire bem e que tenha boa saúde. E sempre que pudermos colaborar com outras companhias, estaremos disponíveis.

P-O primeiro espectáculo da companhia, “Mãe Preta”, é o sinal dessa diferença?

R-É sobretudo sinal da nossa forma de ver o teatro. Não é melhor, nem pior, é apenas diferente. Estamos muito ligados a um teatro que trabalha com emoções, um trabalho físico. O cenário principal do nosso trabalho é o corpo e usamos o texto na perspectiva de que gesto e palavra têm o mesmo valor. Esta primeira peça é feita com máscara. Há todo um trabalho físico e gestual que pode ser considerado como uma partitura. É um espectáculo para a infância, que necessita de concentração. Por isso, vamos fazer ateliers para sensibilizar as crianças para este espectáculo.

P-Este é um projecto para continuar com as crianças?

R-É um projecto para continuar ao longo do ano lectivo. Não construímos um espectáculo apenas para ser visto algumas vezes. Se queremos que o teatro seja uma realidade e essencial para a formação do nosso futuro espectador, o teatro tem que estar muito mais presente e mais dinâmico. Por isso criámos um primeiro espectáculo com uma história concreta e a partir das reacções dos alunos vamos reconstruir uma segunda versão do espectáculo. Nos anos seguintes vamos continuar com este espectáculo para que as personagens ganhem vida para além do espectáculo.

P-Que projectos pretendem desenvolver?

R-Temos já um programa elaborado para 2005 que visa essencialmente a criação e formação de públicos. O nosso programa passa por espectáculos de parcerias com outras associações, com espectáculos para espaços não convencionais e temos previsto expor o resultado de um trabalho com os centros de terceira idade do Fundão. Vamos realizar também mais três produções e dois projectos pedagógicos, um para a infância e outro para a terceira idade.

P-Como é que esta companhia pode sobreviver?

R-Temos um mês e meio de actividade e ainda não tivemos apoios. Fizemos um workshop que teve uma adesão muito boa e estamos à porta de estrearmos a nossa primeira produção. Sentimo-nos vivos e o gosto que temos em abraçar esta profissão irá encarregar-se de criar, com tempo, apoios e estruturas que nos possam levar a voar ainda mais alto. Antes de lançarmos o projecto, fizemos um estudo de marketing muito rigoroso, que nos disse que era possível avançarmos, mas que era preciso muito trabalho. E isso é a parte boa para nós.

P-Apesar da ruptura com o Teatro das Beiras ponderam uma colaboração com esta companhia?

R- Perfeitamente. Não temos rigorosamente nada contra o Teatro das Beiras. Estamos frontalmente contra a gestão feita pelo director Fernando Sena naquela companhia e não ponderamos ter qualquer tipo de colaboração que envolva trabalho com aquele director. Mas não misturamos Teatro das Beiras com Fernando Sena.

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