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Ir ao fundo da questão

Crónica Política

Eu acredito na convicção de Santana Lopes quando se propôs ganhar as próximas eleições. Provavelmente usou para este vaticínio apenas a sua intuição, confiando na suficiência seus dois principais trunfos: a genuinidade e o carisma político, essa qualidade indefinível que faz as pessoas gostarem dos políticos sem ser preciso conhecer as ideias ou os programas eleitorais. São estes atributos que fizeram de Santana Lopes uma máquina de ganhar eleições. Ser genuíno, porém, tem custos, e o indisfarçável gosto pelo improviso gerou, por vezes, espaço para argumentos do seu pouco distraído oponente político.

Santana Lopes tem contra si, principalmente, o ciclo político que, conseguindo ser invertido, faria da vitória uma proeza notável!

Sócrates, por seu lado, tem-se afirmado, no estilo, como antípoda. É frio e calculista, estudou bem a lição, mas transmite essa desagradável sensação em quem o vê e ouve, de se estar perante um robot.

Do ponto de vista da forma, descontadas as picardias de mau gosto, de ordem pessoal, foi este o timbre da campanha.

Outra coisa são as soluções partidárias para os graves problemas do país. Ainda há um mês eu manifestava o meu pessimismo perante as perspectivas políticas nacionais. Não estou muito mais optimista, mas surgiu, entretanto, um indício de confiança. É que exactamente até serem públicos os programas eleitorais, nenhum partido tinha assumido aquela que é a questão fulcral nestas eleições. Refiro-me ao peso do Estado na sociedade portuguesa, ao gigantismo da administração pública e ao excesso de despesa que levas sucessivas de políticos, partidos e governantes irresponsavelmente foram fazendo crescer, procurando satisfazer as suas clientelas políticas.

Vários partidos, até o Bloco de Esquerda(!), contemplam nos seus programas medidas para a resolução deste problema. E se o próximo governo conseguisse baixar a despesa corrente de 40% para 31% do PIB, reduzindo o peso dos vencimentos da função pública de 15% para 11%, como propõe o P.S.D., e simultaneamente conseguisse reduzir em 150 000 o número de funcionários públicos, como propõe o P.S., eu dar-me-ia por satisfeito. O problema, porém, não é a falta de promessas de medidas, mas a sua concretização. O que está em causa é, portanto, credibilidade.

Ora da parte do Partido Socialista, o cenário é claríssimo. Por um lado o P.S. não tem vocação reformista, tendo dificuldade em resistir às exigências do seu eleitorado natural, que espera mais benefícios e mais direitos sociais, sem cuidar dos recursos que financiem essa despesa adicional. Por outro lado, António Guterres já provou o que valia. E é a mesma equipa, recauchutada, que se prepara para nos governar (quem não se lembra das famosas 30 medidas para reduzir a despesa do Estado do nosso candidato Pina Moura?). Com uma agravante: Sócrates não tem currículo nem obra. As perspectivas não podem, por isso, ser por aí além…

Por: Rui Quinaz

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