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IPPAR quer embargar obras no Parque da Goldra

Intervenção Polis em zona de arqueologia industrial não está a ser acompanhada por nenhum arqueólogo

O Instituto Português do Património Arquitectónico prepara-se para embargar as obras do Parque da Goldra, uma zona rica em património industrial, por estarem a decorrer sem acompanhamento arqueológico. O IPPAR apenas aguarda explicações da sociedade PolisCovilhã, promotora da intervenção, para dar andamento ao processo.

O caso foi revelado pelo Instituto Português de Arqueologia (IPA), que solicitou a intervenção do IPPAR para suspender as obras, tendo o caso sido remetido também para a Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT), o Ministério da Cultura, que tutela aquele organismo, e para o Ministério da Administração Interna (MAI). Entretanto, o IPA requereu pediu à PSP para identificar os «responsáveis pela destruição do património», salienta Catarina Tente, subdirectora do IPA, com vista a uma queixa junto do Ministério Público. A suspensão das obras na Goldra, que decorrem entre o núcleo da Real Fábrica Veiga do Museu de Lanifícios e a ponte Mártir-in-Colo, já foi pedido à autarquia «por várias vezes» desde Fevereiro, revela a responsável. Mas o pedido nunca foi acatado. Contudo, há três semanas a Câmara solicitou autorização para recorrer ao mesmo arqueólogo que está a supervisionar as intervenções na zona intra-muralhas. Um pedido rejeitado pelo IPA, pois «o mesmo arqueólogo não pode estar a acompanhar duas obras ao mesmo tempo. É preciso estar a tempo inteiro numa só», salientou aquela responsável.

O certo é que as obras decorrem, tendo havido já demolição de antigos edifícios fabris. «Não podemos precisar se os prejuízos foram muitos ou poucos. Sabemos que houve estruturas destruídas, mas não sabemos exactamente o quê nem qual a sua extensão», apontou, visto não ter sido feita nenhuma avaliação do património existente no local. No entanto, estima-se que haja por ali objectos da época romana (ver caixa). De resto, a subdirectora do IPA lamenta apenas que a Câmara «não seja muito sensível às questões do património soterrado», recordando-se de outros casos semelhantes na Covilhã. Por sua vez, José Afonso, director do IPPAR, prometeu que vai estar atento, pois a obra «não pode decorrer sem acompanhamento arqueológico». Contudo, essa exigência só poderá ser feita quando o processo burocrático estiver concluído. «É preciso mais celeridade», exige, caso contrário poderá «ser tarde de mais para preservar o pouco património que valoriza a Beira Interior». Um problema que espera ver resolvido com a regulamentação da Lei Quadro do Património, para que se possa actuar antes das obras estarem no terreno. Apesar das diversas tentativas, não foi possível falar com Carlos Pinto, nem com o vereador responsável pelo PolisCovilhã.

Edifícios da Goldra já eram referenciados em 1734

Os edifícios da Goldra vêm referenciados na “Memória de 1734”, um documento que já apontava para a existência de fábricas «muito antigas» naquele local, esclarece Elisa Pinheiro, directora do Museu de Lanifícios e membro da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial. Por isso, considera que possam ali existir «vestígios do tempo romano» e até mesmo câmaras antigas daquela época. No entanto, a especialista em preservação do património industrial não sabe precisar qual a data específica desses edifícios, visto que, até hoje, não foi feito o «acompanhamento arqueológico» numa área «muito importante e sensível» no que toca ao património industrial e à história dos lanifícios. É que segundo consta num outro documento, do século XVIII, a Covilhã terá “nascido” precisamente naquela encosta, tendo sido também ali que se fixaram muitas indústrias de lanifícios ao longo dos séculos XIX e XX. As obras do Parque da Goldra vão dar lugar a um jardim para recreio e lazer, parques infantis e de desportos radicais, bares, restaurante, percursos pedonais e de bicicletas, bem como espelhos de água e zonas arborizadas.

Liliana Correia

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