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Instruções Para o Verão

Antes de mais nada, as sardinhas. Devem ter as escamas de um prateado brilhante, como os olhos, e mostrar as guelras bem vermelhas. Não devem ser demasiado grandes, que as espinhas passam a ser um problema, nem demasiado pequenas, que aí passam a chamar-se “petingas”. Não se estripam. Devem pôr-se no sal antes de irem à grelha, mas não mais de meia hora, que podem secar, e sempre no frio. A grelha deve estar bem quente, para não agarrarem, mas deve-se esperar que as brasas estejam já cobertas com alguma cinza para diminuir a possibilidade de se incendiarem os óleos que as sardinhas vão libertar – o que teria como consequência chamuscá-las ou queimá-las. Não se devem virar mais do que uma vez, que são delicadas, nem devem assar durante demasiado tempo, que podem secar. Assim que estiverem douradas, um pouco para o acastanhado, estão prontas. Se tiverem sido bem assadas, a pele fica estaladiça, não mole, e sai de uma vez. Comem-se em cima de uma fatia de pão, acompanhadas com pimentos assados e vinho tinto, de preferência refrigerado (é a única excepção ao mínimo de 18º recomendado para o vinho tinto). Verde tinto e champanhe, rosé ou tinto, também servem. No final pode comer-se uma fatia de melão, mas uma bola de gelado é ainda melhor: ajuda, e muito, à digestão. Não é fácil encontrar onde se assem bem, na Guarda. Mas a Cidália, no Barracão (à sexta-feira têm sempre) e a Tasquinha, em frente à Câmara, são apostas seguras.

Há também a praia. Falo nisto porque tenho visto gente a utilizar tão mal a praia como alguns restaurantes assam sardinhas. Vão embora às horas a que as pessoas civilizadas chegam. Apanham o pior do sol, às horas mais quentes e com menos sombra, como se estivessem numa corrida para apanhar cancro da pele, e o pior é que levam com elas crianças de tenra idade. Por mim, vou à tarde, por volta das quatro, e com protector solar comprado já este ano, que de um ano para o outro perde o efeito.

Há ainda a crise, que este ano atingiu todos e bateu forte. Valha-nos que os hotéis estão muito mais baratos e resta sempre a hipótese do campismo. Não sabe armar uma tenda, ou já se esqueceu de como é? Não tem nada que saber: montam-se e desmontam-se em segundos. E são muito mais baratas, e melhores, do que eram quando ainda tínhamos, e falo de mim, idade para acampar. O chão é duro? Há agora sacos-cama com colchão incorporado (!) ou até colchões “auto-infláveis”. Comer? Se não lhe apetecer ir ao restaurante, resta-lhe assar sardinhas: são baratas, fazem bem à saúde e, se seguir as minhas instruções, não custa nada.

Boas férias e até Setembro.

Por: António Ferreira

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