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Inquérito a incêndio de Famalicão da Serra vai ser reaberto

Bombeiros queixam-se de falta de formação e de equipamento de protecção individual para o combate às chamas

O inquérito do incêndio que, a 9 de Julho do ano passado, tirou a vida a cinco sapadores chilenos e a um bombeiro português, em Famalicão da Serra, poderá ser reaberto, pelo Ministério Público, depois de ter sido arquivado. A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias, no sábado, e apanhou a família do malogrado Sérgio Rocha de surpresa.

Daniel Rocha considera «que o processo deverá ser reaberto porque não é admissível que as justificações apresentadas no despacho pelo Procurador do Tribunal da Guarda sejam opiniões e não análises técnicas». Para além disso, o irmão do bombeiro natural de Famalicão da Serra acha «incrível como é que se fecha um processo com uma testemunha», neste caso o proprietário do terreno onde terá deflagrado o incêndio. Durante uma jornada de análise ao incêndio de Famalicão organizada, no passado sábado, pela associação Bombeirosdistritoguarda.com, em conjunto com o Projecto Sérgio Rocha, muitas foram as reivindicações para formação no combate a incêndios e melhores equipamento para os bombeiros voluntários por forma a evitar novas tragédias como a de Famalicão. Os cerca de 20 bombeiros que participaram na iniciativa estiveram no local onde ocorreu a tragédia e apontaram várias falhas registadas durante o incêndio, tendo denunciado que o bombeiro Sérgio Rocha não possuía o equipamento necessário para o combate a incêndios, nomeadamente o capacete de protecção «que lhe poderia ter salvo a vida», realçou o seu irmão.

«Actualmente, apenas os bombeiros de primeira classe têm acesso à formação de combate a incêndios ministrada pela Escola Nacional de Bombeiros», lamentou Sérgio Cipriano. Para o presidente da associação Bombeirosdistritoguarda.com todos os voluntários deviam ter «formação de base, não tão aprofundada como para as chefias, mas pelo menos para saberem como actuar», reclamou. A recente atribuição de novo equipamento de protecção individual de combate às chamas, no qual está incluído o “fire-shelter” (abrigo de fogo), não deixa Sérgio Cipriano satisfeito, isto porque «a grande maioria» dos bombeiros não tem formação para utilizar o equipamento. «De que serve ter um “fire-shelter” se não se sabe utilizá-lo?», sublinha.

Incêndio deve servir de exemplo

Actualmente, existem perto de 2.300 voluntários no distrito. No entanto, «cerca de 20 por cento não são especializados no combate às chamas e mais de 1.300 não têm formação e desconhecem o fenómeno “blow-up”», conhecido no seio dos bombeiros por efeito chaminé, afirma Sérgio Cipriano. Para o responsável, «os locais como o de Famalicão da Serra, devem servir cada vez mais de locomotiva à investigação, ao estudo e à sensibilização do fenómeno “blow-up”, para que se possam tirar lições e assim evitar tragédias similares». No nosso país, em apenas dois anos, o fenómeno registado em Famalicão da Serra, vulgarmente conhecido por efeito chaminé, vitimou 10 bombeiros, número que o líder da associação Bombeirosdistritoguarda.com considera «catastrófico».

Com o intuito de manter viva a memória do malogrado bombeiro de Famalicão da Serra, família e amigos uniram-se para criar o Projecto Sérgio Rocha. Para além desta iniciativa, organizada em conjunto com o Bombeirosdistritodaguarda.com, Daniel Rocha espera continuar com iniciativas do género e fazer desenvolver alguns trabalhos na comunidade. «Queremos que as pessoas sintam aquilo que era o meu irmão: uma pessoa que quando queria fazer alguma coisa fazia sem pedir nada em troca», explica. Actualmente, fazem parte do projecto cerca de 10 pessoas. Contudo, Daniel Rocha, admite que «todos são bem-vindos e são convidados a participarem com o que puderem». O projecto vai abranger a área do voluntariado e da música, uma vez que Sérgio Rocha era professor de música.

Tânia Santos

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