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Influências

Sinais do Tempo

1. Na primeira metade do século passado, a linha da Beira Alta não pertencia à CP, as máquinas a carvão, puxavam as carruagens penosamente do litoral para a fronteira e vice-versa. O meu avô materno pertenceu a essa classe de aventureiros que se punham a caminho conduzindo as pesadas locomotivas, durante um a dois dias. Contou-me muitas histórias e peripécias. Aquelas locomotivas eram autênticas panelas de pressão. Além dos “factores”, revisores, “fogueiros” e maquinistas, outro grupo menos visível, mas imprescindível para que a jornada decorresse sem incidentes, eram as guardas de passagem de nível (das “casetas”), que levantavam a bandeira enrolada dando luz verde ao comboio. Substituídas por mecanismos automáticos são hoje uma espécie em vias de extinção. Embora tivessem ordenados miseráveis, as guardas das “casetas” tinham uma regalia importante, um tecto acanhado, mas que albergava a família.

Contaram-me que para os lados de Vila Franca das Naves, nessa época, duas guardas se desentenderam e chegaram a vias de facto. Veio o inspector, que, de forma sumária, se decidiu pela expulsão das duas mulheres. Nessa altura uma empresa não se podia dar ao luxo de ter inimizades entre os seus trabalhadores.

Perante tão drástica decisão – e sem apelo – havia que procurar alguém na terra ou arredores que pudesse usar a sua influência.

Encontraram um comerciante honrado que conhecia uma pessoa influente na direcção. Meteram-se no comboio a caminho da Figueira da Foz, onde tudo se decidia. Voltaram descansados e as famílias voltaram a ter os seus tectos. O jogo de influência desinteressado, altruísta e por uma boa causa tinha resultado. Na então aldeia todos se perguntavam quem teria sido o obreiro de tamanho “milagre”. Chegou-se a conjecturar que poderia ter sido um homem com raízes na terra e agora abastado a residir na capital ou um qualquer politico importante a quem tivessem jurado eterna gratidão. Mas, quiçá, o responsável pela “ajuda” foi outrém…

O jogo de influências é frequentemente assim, resulta de e com quem menos se espera. Na nossa actividade social todos sofremos a pressão e a influência – a “cunha”. Seja em Portugal ou na América ou na China. Seja qual for a profissão ou a posição hierárquica, a “cunha” está lá. Seja qual for o partido político, de esquerda ou de direita, alguém quererá usar a influência ou os jogos da dita.

Neste caso procurou-se minimizar um acto irreflectido de que resultaria uma pena com consequências desastrosas para as duas famílias. No final ficou apenas a gratidão ou, quando muito, um cabrito, umas nabiças, azeite e uns queijos.

Nem sempre foi ou é assim. Todos os dias se relatam casos em que se jogam influências, cujas consequências e lucros ultrapassam largamente os desta história. Está na altura dos homens honrados, comerciantes ou não, deste distrito se meterem num comboio para Lisboa e usarem as suas influências para terminar de vez com o folhetim do encerramento da Maternidade da Guarda.

2. Tabaco

O governo espanhol fez promulgar uma lei anti-tabaco corajosa atendendo aos hábitos dos nossos vizinhos. Não foi, nem é, pacífica, mas já não terá retrocesso, apesar das manifestações na rua e nos bares.

As medidas anti-tabagismo têm que ser radicais quanto baste, mas sem os fundamentalismos dos americanos ou dos japoneses.

O cigarros que alguns de nós ainda vamos consumindo enriquecem os cofres do estado.

È imperativo que o nosso governo tenha a coragem de assumir perdas nos impostos e introduza as leis adequadas, para que tenhamos ganhos reais em saúde no futuro próximo e distante.

Por: João Santiago Correia

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