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Inevitabilidade? Não.

Menos que Zero

Ano após ano, o Governo anuncia mais e melhores meios de combate aos incêndios, mas assim que o Verão espreita, o país começa a arder.

Ano após ano, a oposição – que antes era Governo – indigna-se com a falta de medidas de prevenção, mas esquece que nada fez para impedir o flagelo.

É a época em que os telejornais abrem com incêndios, em que os jornais fazem capa das paisagens negras, em que as rádios dão voz aos portugueses que, num ápice, perdem o trabalho de toda uma vida.

Dentro de uns meses, quando o Verão acabar, tudo será de novo esquecido até os incêndios regressarem em força no próximo ano.

Com a mudança de Governo anunciam-se novas medidas. Numa entrevista recente, o ministro da Agricultura mostra determinação para acabar com os incêndios: diz que já criou uma equipa cuja missão é propor uma política de prevenção de fogos. Pela enésima vez, os portugueses vão dar o benefício da dúvida a um governante, na esperança de que seja desta.

Porém, nessa mesma entrevista há sinais que deixam antever mais estudos sem consequências práticas. Um desses sinais é a complacência revelada quando o ministro diz não excluir a hipótese de penalizar quem não gere a floresta. Face à situação actual, o ministro tem de ser mais duro: os proprietários que não limpam as suas florestas devem ser penalizados, pois colocam em perigo outros produtores florestais e as próprias populações. Se o Estado pode mandar demolir um edifício que ameaça ruína, enviando a conta da demolição aos proprietários, também deve poder mandar limpar um pinhal, enviando a conta ao seu proprietário. Sobretudo porque existem apoios específicos para a gestão activa da floresta aos quais poucos produtores concorrem.

Para além penalizar quem não gere a floresta, o Governo deve continuar a premiar quem desenvolve um bom trabalho nesta área: a “Bandeira Floresta Verde” é uma boa iniciativa, mas deve ser complementada com fortes apoios financeiros. A Associação de Produtores Florestais (APF) do Paul, que já ganhou esta bandeira, é um bom exemplo: faz limpeza de matas, reflorestação com espécies autóctones e ainda ajuda no combate aos incêndios. Com cerca de 400 sócios – que pagam apenas seis euros por ano – a associação gere mais de 150 mil hectares de floresta onde não se registam incêndios. Espera-se que outros sigam o exemplo desta associação covilhanense para que os incêndios não sejam uma inevitabilidade.

Por: João Canavilhas

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