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Inaugurem o parque antes que chegue o inverno

Sinais do Tempo

Domingo de tarde soalheiro, após um bom almoço, nada melhor que um passeio pedestre. Entre os passos lentos e a conversa preguiçosa, dispus-me a apreciar o parque urbano do rio Diz (1ª fase e única), tantas vezes olhado de forma rápida e distante enquanto conduzia na VICEG.

A obra ainda em fase de ultimação (ou já acabada?), revela todo o cuidado e bom gosto dos projectistas.

O charco foi transformado num pequeno lago onde crescem plantas aquáticas, rodeado de caminhos ora em brita ora em madeira. Nunca servirá para uns passeios bucólicos ou apaixonados de barco, mas poderá servir para os entusiastas do modelismo telecomandado, tudo à escala é claro, porque somos uma pequena cidade.

Os pequenos morros ora com relva ora com rosas dão maior dimensão ao espaço e criam um ambiente intimista, permitindo dar umas voltas evitando os que não queremos encontrar. As colunas de granito plantadas de forma alinhada deixam antever umas latadas (agora que está na moda plantar vinhas nas rotundas…).

Os edifícios estão bem integrados na paisagem – desenho agradável e materiais modernos. Até nas jaulas dos cães pensaram…! Os bancos de jardim dificilmente serão ocupados por reformados ou indigentes; de pedra e inox resistem, mas são desconfortáveis.

Transformar um espaço agrícola condenado e moribundo num parque agradável ao olhar não deve ter sido fácil. Talvez por isso tenha demorado mais de 6 anos (desde a colocação do “polisrelógio” na rotunda, ali ao lado).

Em Janeiro de 2007 o responsável do Polis, em entrevista a um jornal nacional, disse que a intervenção neste parque estaria concluída em Março, porque o clima da cidade não permitia plantar árvores ou fixar taludes antes (in “Primeiro de Janeiro” de 13/1/2007, págª 14). Estamos em Outubro, tarde soalheira e preguiçosa, a obra é agradável, mas não está ainda terminada por certo.

Apesar dos múltiplos atrasos nada parecia tirar-me aquele momento de felicidade, via miúdos e graúdos a passear de bicicleta, outros a pé, outros namoravam perto do lago, os pais jogavam futebol com os filhos, uma parte (pequena) da cidade já aproveitava o espaço.

Subitamente, o estado de paz e felicidade como que explodiu, quando, pela mão de uma criança de dois anos, fui arrastado em passo de corrida, em direcção ao parque infantil. A alegria espalhada na face subitamente deu lugar a revolta, entre murros nas pernas e pontapés na brita, tudo porque o portão estava fechado. De uma forma rápida, como só as crianças conseguem fazer, olhou para mim, de baixo para cima, e disse “se me pegares ao colo eu consigo passar aquele muro e já posso ir brincar”. Reflecti, coloquei a minha máscara de adulto convicto mesclada de alguma arrogância e tal como se tornou hábito entre os nossos governantes em resposta aos protestos, arranjei uma desculpa esfarrapada em que misturava o PCP, as polícias e os cães. E, para meu espanto, não é que resultou mesmo.

Inaugurem o parque por favor, para eu não ter que tornar a mentir a uma criança dizendo-lhe que o Inverno ainda tarda.

Por: João Santiago Correia

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