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Imprudência traiçoeira na Serra da Estrela

Director de Estadas da Guarda considera que visitantes arriscam muito e estão geralmente mal preparados para subir à Torre no Inverno

Está tudo a postos nas estradas da Serra da Estrela para receber os visitantes, que têm este ano mais e melhores acessibilidades graças à conclusão da A25, de um troço de 10 quilómetros entre Loriga e a Lagoa Comprida (EN 338) e da variante a Gouveia. «A Estradas de Portugal melhorou as condições de acesso e de segurança da circulação nas vias que cruzam o maciço central, resta agora aos condutores terem mais cuidado», recomenda o director de Estradas do Distrito da Guarda no início de mais um Inverno no ponto mais alto do continente.

É que os turistas podem ser um perigo no maciço central. Sobretudo se estiverem ao volante e vierem ao fim-de-semana. «A sua imprudência e falta de preparação para circular nas estradas de montanha têm estado na origem de várias situações complicadas», garante António Martins, para quem é «uma loucura» haver dias com 300 autocarros no ponto mais alto da única montanha da Europa onde é possível chegar ao cume de automóvel. Este número parece inverosímel, mas foi registado no ano passado pela GNR do posto da Torre. «É verdadeiramente assustador», sublinha aquele responsável, porque «quem sobe, tem que descer em segurança e com alguma rapidez». O que nem sempre é compatível, como aconteceu no passado dia 8 de Dezembro, quando os automobilistas demoraram, sem neve, três horas para descer dos Piornos para a Covilhã. Este será o principal dilema da Serra da Estrela, já que mais acessos significam mais carros e autocarros no cume, até porque os visitantes continuam a arriscar para ver a neve. «Para muitos a serra é a Torre e, mesmo a 500 metros do ponto mais alto, ainda há gente que pergunta onde é a Serra da Estrela», conta o director de Estradas, recomendando as visitas durante a semana. «Se vierem nessa altura terão melhores condições que ao fim-de-semana, quando correm o risco de ficar fechados no carro durante várias horas», avisa.

Enquanto esse hábito não muda, a Estradas de Portugal (EP) melhorou as condições de circulação, disponibilizando, nomeadamente, seis novos locais de inversão de marcha entre o Sabugueiro e a Torre e 10 limpa-neves prontos a intervir. «O Centro de Limpeza de Neve, com 18 funcionários, está operacional porque há lá gente muito dedicada», garante António Martins, recordando que as vias são fechadas sempre que há nevoeiros densos e queda de neve. Mesmo assim, desde 2004, a EP permite a circulação dos veículos equipados com correntes nalgumas situações. «O problema é que muitos automobilistas não as possuem ou não sabem colocá-las e continuam viagem, desobedecendo à sinalização e às autoridades», afirma. O director de Estradas alerta ainda que a EN339, entre Seia e a Covilhã, «não tem capacidade para o tráfego que a demanda nos dias de ponta». Por isso, António Martins também é de opinião que os meios mecânicos, como as telecabinas, são uma «excelente alternativa» a ponderar e a garantia de um «turismo de qualidade» na Serra da Estrela. «Basta copiar o que se faz lá fora», refere. Actualmente, a EP não tem forma de saber quantos veículos sobem à Torre porque os contadores de tráfego instalados há cerca de quatro anos foram vandalizados.

Salgema não é nociva

O director de Estradas do Distrito da Guarda garante que o uso de salgema (vulgo cloreto de sódio) para manter transitável a estrada de acesso à Torre não é nocivo para o meio ambiente. António Martins desmente o alerta lançado recentemente pela Associação dos Amigos da Serra da Estrela, e que “O Interior” noticiou, segundo a qual já foram detectados níveis alarmantes de salinidade nos aquíferos mais próximos, para além de poder ser prejudicial à fauna, flora e até às pedras da Estrela.

«Após a notícia encomendámos leituras periódicas no rio Zêzere e em locais mais sensíveis da Serra. Os primeiros resultados revelam que, a existir salinidade, ela dilui-se e não se acumula», garante o responsável, acrescentando que uma garrafa de água contém mais cloreto e sódio que as amostras recolhidas. Esta vigilância prossegue no Inverno e está a cargo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do IPG, que efectua as análises mensalmente. «Se detectarmos níveis mais elevados, comunicaremos o caso às autoridades competentes, mas até prova em contrário não há motivos para alarme», tranquiliza. De resto, recorda que a salgema também é usada nas estradas da França e da Suíça.

Luis Martins

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