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Ilusão

Bilhete Postal

Conhecer intimamente pode ser uma desilusão. Descobrir a intimidade pode ser um cataclismo e viajar é parte desta ilusão que se desmorona de quando em vez. Conhecer um país, visitar uma aldeia, sair da internet para a realidade, tudo são processos associados ao risco do desengano. Se vamos numa estrada e decidimos percorrer um caminho novo, vamos no fascínio de algo surpreendente, algo que nos abra a mente, nos percepcione uma realidade outra, mais bela, mais sedutora, mais aconchegante. Quando abrimos um livro ou vamos ao cinema buscamos um encontro com o gáudio, o tocar algo aconchegante ou revelador, ou divertido. Há uma infinidade de razões que nos movem até algo novo: a curiosidade, o conhecimento, a paixão, o desejo. E há imensas razões que nivelam a expectativa com a força do apreendido. A decepção, o logro, o desapontamento, são sinónimas entre si, e carregam a balança negativa do aguardado sobre o conhecido. Talvez por isso muitos filmes não atingem a qualidade do livro (para quem os leu previamente entenda-se) e muitos passeios sejam menos empolgantes que o seu registo num jornal. A audição de um disco depois da crítica e o livro depois da entrevista podem fazer parte deste rol de esperar o que se não consegue aferir. Assim me cai a escrita de Lobo Antunes que insisto em tentar perceber, que insisto em não desistir, mas que tanto me custa percepcionar. Ontem foi a torre de Lapela perto de Monção, tão triste, tão só, tão perdida entre o casario com o Minho perto. Depois foi a praça Deu-la-deu tão cheia de casarios abandonados no centro da vila de Monção. Por vezes é melhor viajar na internet filtradas as minudências, e ampliadas as virtudes. E daí, talvez o conhecimento íntegro, apesar de desapontar, seja mais vida.

Por: Diogo Cabrita

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