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Iberografias de Luís Lima Garcia – O Novo Cântico da Terra

Ler para Querer

O Centro de Estudos Ibéricos acaba de publicar uma edição bilingue, em português e castelhano, de um livro de poesia de Luís Lima Garcia – Iberografias -, a tradução e o prólogo que (se recomenda e) resulta num curto ensaio sobre poesia e cultura peninsular é de Maria Jesus Méndez. O design gráfico da edição destaca-se pela (pós-) modernidade – tudo parece ter sido cuidadosamente pensado: do tom verde opala e grafismos negros, brancos, cremes e verde tília da capa – como registos silentes na paisagem (caminhos), aos tons antracite e negro da contra-capa.

O Poeta era conhecido como Historiador, mas de aqui para o Futuro teremos de repensar os olhos com que vemos o Professor Luís Lima Garcia – porque esta escrita poética lhe jorra quente e saborosa como fruta madura e não como primeiros escritos. É uma escrita muito trabalhada em jogos de palavras, associações inusitadas de palavras e conceitos que jogam polisemanticamente muitos papeis. Substantivos e advérbios que se adjectivam. Aqui, toda a palavra pensa e pesa toda a Cultura portuguesa.

Este novo Cântico da terra, que nos traz, encontra-se estruturado em VI Ibérias. De Norte a Sul, um país, uma nação, uma Terra. A Oeste a grande viagem, a Este a neblina indefinida de fronteiras inexistentes. Uma Mátria à maneira de Natália Correia e onde, também como nela, os mitos pessoanos se refazem. Ser tudo ao mesmo tempo, aqui e agora – é realizado pelo poeta de um modo panteísta, por um lado, e telúrico pelo outro.

Panteísta porque a Natureza se assume Mãe Primeira e Divina porque gera tudo e cria o êxtase (tudo ao mesmo tempo nos altos cumes da Palavra) quando é olhada (produz a emoção que cria o poema). E telúrica porque tem a fisicalidade forte da pedra, da árvore, do rio e do fruto – e aí é um constante hino à Terra, mas o Poeta olha e vê… o Quinto Império da palavra (de Vieira, no gosto pela retórica, no léxico rico e jogos de palavras, e de Pessoa, na sublimação de um presente “vil e apagado” pela glória inventada do instante).

Mais do que a nostalgia ou a melancolia sinto aqui o riso “sonoro e grave”, mas jocoso do fauno que percorre os bosques em busca de memórias futuras. Do povo triste de Unamuno “até quando sorri” não dei por ele, e o eventual anti-clericalismo-ritualístico não é anti-religiosidade. Mas a religiosidade de Jesus – no que tem de mais transgressivo -, sim, está toda lá, em irreverenciais e imaginados apócrifos.

É um livro misterioso de um homem cheio de segredos. Para mim tornou-se um livro indispensável. É um livro Secreto e cheio de Futuro.

Por: Mário José Gomes

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