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Iberdrola e Gamesa investem na Guarda

Projecto industrial contempla a construção de três fábricas junto à Plataforma Logística

Guarda e Paços de Ferreira foram as cidades escolhidas pelas Novas Energias Ibéricas (NEI), para a instalação de cinco fábricas produtoras de aerogeradores. O consórcio formado pela Iberdrola, Gamesa, Visabeira, Alberto Mesquita, MECI e Galucho, apresentou, na passada quarta-feira, em Lisboa, o projecto industrial que contempla a construção de três unidades na cidade mais alta do país. Para a escolha contribuíram a proximidade da fronteira, as acessibilidades e as infraestruturas. Resta agora esperar pelo resultado do concurso internacional lançado pelo Governo para atribuição de 1500 MW de potência eólica, que termina no final deste mês.

Caso o consórcio vença, estima-se que na Guarda sejam criados dois terços dos empregos previstos graças a uma unidade de fabrico de torres, uma outra de montagem de aerogeradores e um centro de logística. Já em Paços de Ferreira ficarão uma duas fábrica para produzir pás e electrónica de potência. Na corrida à instalação estavam outras cidades, como Figueira da Foz e Castelo Branco, mas as escolhas acabaram por recair na Guarda (junto à Plataforma Logística) e Paços de Ferreira (no Parque Industrial), por causa das «excelentes acessibilidades e infraestruturas», explicou Fernando Pacheco, presidente da NEI. Acrescentando também que o centro de gravidade dos parques eólicos a que estão a candidatar-se «fica muito próximo da Guarda e, simultaneamente, tem uma grande proximidade com o principal centro de exportações, que é Espanha, além de que está a ser agora construída a Plataforma Logística». Quanto à escolha de Paços de Ferreira acontece «por causa da proximidade do porto de Leixões e a exportação por via marítima», justificou o responsável. No entanto, os investimentos têm que ser feitos «próximos dos locais onde há mais rentabilidade», sublinhou o presidente das NEI.

O projecto industrial será construído nos próximos dois anos e terá capacidade para fabricar mais de 100 aerogeradores por ano, acrescentando ao mercado uma potência anual de cerca de 300 megawatts, com instalações que ocupam uma extensão até 100 mil metros quadrados. E, já contam com uma carteira de encomendas para oito anos, desde a entrada em funcionamento, estando previsto que se exporte mais de metade de toda a produção. Quanto ao investimento, os responsáveis preferem não revelar, mas adiantam que serão investidos «dezenas de milhões de euros», sendo que a Iberdrola e a Gamesa detêm 40 por cento do capital directo, ficando o conjunto das empresas portuguesas com os restantes 20. Neste sentido, a iniciativa destas empresas terá um impacto positivo na economia portuguesa, «tanto pelos investimentos e pela criação de emprego, como pela quantidade de trabalho e exportações», sublinhou Fernando Pacheco. «Trata-se de um investimento importante no reforço do tecido industrial português e na sua diversificação», acrescentou o presidente da Iberdrola Portugal, Joaquim Pina Moura.

A decisão já está tomada

Com ou sem consórcio, o projecto parece estar decidido, já que o administrador-delegado da Gamesa, Guillermo Ulacia, realçou que esta será «uma oportunidade excelente para nos implantarmos em Portugal e produzir neste país». No entanto, o resultado do concurso poderá vir a ditar «o tamanho das instalações onde vamos fabricar», salvaguarda o responsável. Para a Gamesa, grupo fabricante e fornecedor de produtos e serviços tecnologicamente avançados para os sectores das energias renováveis e aeronáutico, o investimento enquadra-se no processo de expansão das suas instalações de produção por todo o mundo, tanto na Europa, como nos Estados Unidos ou na China. E a Iberdrola fechou 2005 como líder mundial no sector das energias renováveis, com mais de 3.800 megawatts de potência eólica instalada.

Mais empresários de olho na Guarda

Joaquim Valente, presidente da Câmara da Guarda, também presente na conferência de imprensa, sublinhou mesmo que este é o primeiro investimento industrial que o concelho recebe desde 1960, aquando da instalação da Renault: «É um marco histórico para a cidade», frisa. Por isso, o autarca está muito confiante e acredita que a cidade tem «hoje uma nova centralidade, acessibilidades notáveis e os empresários já viram isso». Trata-se de um investimento que «será a mola impulsionadora de outros investimentos», acredita o edil guardense, revelando que «outros empresários já manifestaram interesse em instalar-se na Guarda». Agora «cabe-nos a nós criar atractividade necessária e suficiente» para captar novos investimentos, sustenta Joaquim Valente, apontando, nomeadamente, alguns argumentos como o facto da cidade «estar na rota e virada para a Europa».

Comentários

«É o pontapé de saída para a PLIE»

Jorge Godinho, presidente da ACG

«A possibilidade da Iberdrola/Gamesa se instalar na Guarda é muito positivo. Fico muito satisfeito se isso vier a acontecer, o que acredito. Trata-se de um investimento estratégico e qualificado, uma vez que se traduz em muita mão-de-obra qualificada. Acredito que esta “tecnologia de ponta” poderá funcionar como uma empresa-âncora, até porque o consórcio tenciona instalar o centro de logística na Guarda. Na minha opinião, a Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) é a salvação da economia local e este é o pontapé de saída».

«Uma ajuda importante para a economia local»

Teixeira Diniz, presidente do Nerga

«Acho óptimo que essas fábricas se instalem na Guarda. Serão muito importantes para a cidade, uma vez que poderão funcionar como impulsionadoras de outras empresas locais ou de fora. Por isso acredito que será uma ajuda muito importante para a economia local. Mas por si só não serão suficientes para alcançar a estabilidade financeira que precisamos, mas poderão estimular a instalação de outras empresas. Já deviam ter vindo».

«Significa discriminação positiva do interior»

José Gomes, vereador na autarquia pelo PSD

«Naturalmente que será um processo de grande importância, não só em termos locais, como regionais e nacionais. Também por ser uma aposta em novas tecnologias. É possível através deste investimento evoluir no sentido de qualificar a mão-de-obra. Por isso, demos o aval positivo ao presidente da Câmara da Guarda. A instalação destas unidades fabris significam discriminação positiva do interior, permitindo fortalecer a coesão nacional. A mais-valia do consórcio Novas Energias Ibéricas se instalar junto à Plataforma Logística é o impulsionar a instalação de outras empresas. Para começar, considero que este grupo de empresários devia promover candidaturas aos parques eólicos nos terrenos do nosso concelho. Porque esta é uma forma de dinamizar a região em termos financeiros.»

Patrícia Correia

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